Hoje é aniversário de Anita Garibaldi. Lize Souza interpreta e é responsável pelo Museu Casa de Anita, em Laguna
Ana Maria de Jesus Ribeiro, mais conhecida como Anita Garibaldi, a maior heroína brasileira, completaria hoje 200 anos de nascimento.
Pela importância histórica dessa catarinense de Laguna, chamada de “heroína dos dois mundos”, o bicentenário se destaca e enseja os mais variados estudos sobre esse ícone da coragem da mulher catarinense, que se consagrou como mãe da pátria na Itália e é considerada a principal figura feminina na consolidação do modelo republicano no mundo.
A construção do mito que lutou pelos ideais republicanos no Brasil, durante a Revolução Farroupilha, na guerra da independência do Uruguai e na unificação da Itália, sempre junto ao marido, o também herói italiano Giuseppe Garibaldi, consolida Anita como um exemplo de dedicação aos seus ideais, de seus sonhos por uma república igualitária, num tempo em que os países eram governados por monarcas.
Para marcar a data, Brasil, Uruguai e Itália estão promovendo centenas de eventos, como inaugurações, exposições, lançamentos de livros e apresentações teatrais e cinematográficas.
De acordo com o historiador Adílcio Cadorin, somente em Santa Catarina já foram ou estão sendo desenvolvidos 160 eventos, como exposições, lançamento de livros, inaugurações, sessão solene na Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina (Alesc), e séries televisivas contando a saga desta mulher, que é símbolo da coragem dos catarinenses. “Anita Garibaldi saiu daqui de Santa Catarina com apenas 18 anos e morreu com 27 anos. Em apenas um ano e oito meses na Itália, se tornou a mãe da pátria italiana e a heroína de dois mundos”, resumiu o escritor, autor da biografia “A
Guerreira das Repúblicas”, que fala sobre a figura de Anita.
“Nenhuma outra pegou em armas para lutar por quatro repúblicas, em dois continentes diferentes, pela república catarinense, república riograndense, república uruguaia e república romana”, exemplificou Cadorin em entrevista à Alesc.
Nome que eleva a cultura nacional
O historiador e ex-prefeito de Laguna Adílcio Cadorin ressalta que a Anita Garibaldi foi uma das precursoras da organização dos serviços de enfermagem nos exércitos em que lutou.
Em dez anos convivendo com Garibaldi, ela também nunca abdicou de sua maternidade. “Dos quatro filhos que ela educou, mesmo participando das batalhas, ela não abdicou da função maternal, não só educando, mas impôs sua forma de educar”.
Para o historiador, sob ponto de vista atual, Anita se transforma em um instrumento para alavancar a cultura e a autoestima catarinense. “Ela, sem dúvida, é um fator que pode alavancar as relações internacionais do Brasil e Itália, com o Uruguai, e isso nos traz cultura, turistas, conhecimento, desenvolvimento econômico. Ela representa um instrumento para fazer outra revolução: desenvolver sua terra, sua cidade, seu Estado e seu país”.
Exemplo para jovens e mulheres que acreditam em seus ideais
A presidente da Fundação Lagunense de Cultura e voluntária no Instituto Cultural Anita Garibaldi (CulturAnita), Vanere Almeida da Rocha Pires, é compositora de músicas que enaltecem a história deste ícone brasileiro, que ainda sofre discriminação por parte da população, por ser mulher e ter tido a coragem de assumir seus sonhos e ir em busca do ideal republicano há 200 anos.
“Imagine como era a vida das mulheres na época da Anita. Ela viveu numa família bem pobre, a mulher não podia nada. Imagina uma mulher que não estava contente e se impõe, podemos imaginar como ela era vista. Foi muito discriminada”. Para Vanere, o que mais chama atenção é que Anita era uma menina destemida, do interior de Laguna, que queria “voar”. “Anita queria que as coisas certas acontecessem e lutou para isso. Era uma menina pobre e que, no fim de sua vida, era poliglota, falava e escrevia em cinco línguas diferentes. É um orgulho para nós, mulheres, e deveria ser mais reverenciada entre os jovens”.
“O maior legado deixado pela Anita Garibaldi é a liberdade de exercermos a nossa força sem deixarmos de ser femininas, sem deixar de ser esposa, porque ela foi uma esposa muito dedicada, passava roupa do marido, cuidava dos filhos, em nenhum momento deixou de lado o seu papel de mãe e de esposa”, destaca a atriz lagunense Lize Souza, que já viveu o papel da heroína Anita Garibaldi diversas vezes, tanto na telona quanto no teatro, e atualmente é a responsável pelo Museu Casa de Anita, em Laguna.
Vida de heroína supera a arte, diz cineasta
“A vida da Anita Garibaldi é muito maior do que qualquer coisa que se possa elaborar dela na área literária, no cinema, no teatro”, avalia Rolando Christian Coelho, diretor dos longas-metragens “Anita Garibaldi” e “A Retirada”.
O cineasta, que além de jornalista é bacharel em psicologia e em ciência política, analisa que, ainda que Anita tivesse sido meramente a esposa de Giuseppe Garibaldi, já haveria uma grande história para ser contada. “Foi ela que conseguiu dar suporte emocional para que Garibaldi enfrentasse as mais diversas dificuldades. Na Itália, já em seu leito de morte, ela aconselhou seu marido a não se preocupar com ela e os filhos e a se preocupar com a Itália. Só essa frase já dá um filme”.
A vida de Anita foi fascinante, na opinião de Coelho. Em tenra idade, teve uma vocação republicana incomum naquele período histórico, naquela população rural. “O que me chama atenção é a intensidade que ela foi vivida”. O jornalista destaca que Anita participou do surgimento de países, teve papel decisivo inclusive no Norte da Europa, do Continente americano, principalmente dos países do Conesul. “Tudo isso transforma a vida de Anita numa vida totalmente atípica e atrativa para quem gosta de história”.
Anitinha nas escolas
A história de Anita está sendo preservada por meio do projeto “Boneca Anitinha nas Escolas”, que explica a trajetória da heroína dos dois mundos aos estudantes do ensino fundamental, em Laguna. A iniciativa é do Departamento de Guardiãs de Anita, do Instituto CulturAnita, de Laguna, e já foi aplicada na escola estadual Comendador Rocha e na escola Chiquinha Gomes Carvalho, no bairro Bananal, em Laguna.