Eunice era a telefonista do banco onde trabalhávamos no Rio de Janeiro. Embora tivesse os seus dois filhos sob o seu teto, no distante subúrbio de Queimados, somente convivia com eles nos fins de semana porque, para chegar ao serviço, no Centro do Rio, às oito horas, saía de casa às cinco, depois de beijar os filhos ainda adormecidos, indo de trem até a estação Central e daí, de ônibus, até o banco, na rua da Assembleia. No fim do expediente, a mesma maratona. Ao chegar em casa, os filhos já estavam dormindo.
Claudionor, um pedreiro nosso conhecido, também madrugava em outro subúrbio do Rio. Sempre com ele, a marmita de alumínio, já um tanto amassada, com o seu almoço, que aquecia num foguinho improvisado na “obra” em que trabalhava. Arroz, feijão e um ovo estrelado era o cardápio padrão.
São realidades que não conhecemos, e ainda bem, aqui na nossa ainda tranquila Tubarão.
Por aqui, embora curtos, os trajetos de ônibus em demanda ao trabalho oportunizam namoricos que, em alguns casos, terminam em algum tipo de relacionamento duradouro... No entanto, uma boa parte dos trabalhadores nas cidades de pequeno porte ainda podem ir andando para o trabalho. Isto resulta em um gasto a menos para estes, em contraste com a despesa obrigatória nas grandes cidades.
Recentemente, em Salvador, tomamos um ônibus na hora do rush em direção ao trabalho. Poucas pessoas conversam, pois a maioria ainda está “em ômega”, ou seja, naquela letargia de quem está mal dormido por ter ido deitar tarde por causa do futebol na Globo. Alguns bocejam ou cochilam.
De qualquer forma, milhões de brasileiros, todos os dias, se dirigem para uma rotina às vezes massacrante, sempre preocupados em não chegar tarde ao serviço, para que possam manter o seu ganha-pão porque, em face da explosão populacional vigente, ter um emprego nos dias de hoje, é ter um tesouro nas mãos.
Pela mesma razão, vemos as pessoas tomadas por verdadeira neurose, tentando de toda a maneira ir para o trabalho, nas reportagens que mostram as consequências das greves de ônibus e de metrô, em São Paulo.
É no trajeto que se faz para o trabalho que o pensamento escrutina o que vai fazer na nova jornada.
Enquanto um a enfermeira de UTI pode estar começando a ficar deprimida prevendo os dramas que vai encontrar no serviço, um locutor esportivo anseia por presenciar os belos momentos de um jogo de futebol.
De um jeito ou de outro, vamos trabalhar!