Quando o Criador plasmou os animais, assim como no caso de Adão, usou o barro como matéria-prima.
Uma vez prontos e secos, todos tinham a mesma cor: o cinza.
Então, em uma segunda etapa, Ele, munido de tintas e pincéis, tal qual um inspirado pintor de hoje, passou a dar cor para cada um deles.
Como a esperança, também conhecido como grilo verde, ao qual deu ao formato de uma folha, ansiava por voar mais longe do que conseguia, manteve-lhe a fé, pintando-o de verde para que pudesse se esconder dos predadores, e assim voar distâncias maiores.
Quanto à zebra, como era muito dorminhoca, resolveu vesti-la de branco com listras pretas, o que deu origem ao pijama dos dias de hoje.
Ao porco landrace, roliço e delicado, deu um tom de rosa, por associar esta cor à delicadeza do animal.
A joaninha ficou muito sem graça pintada de vermelho. Assim, o Criador acrescentou-lhe sete pintas pretas. Ficou lindo! Teria sido ela a inspiração para as cores do Flamengo?
Ao término do primeiro dia, a tinta chegou ao fim. Era a vez da girafa. O amarelo deu para cobri-la, mas o castanho escasseava e não dava para fazê-la bicolor, como era Sua intenção. O pescoço e as pernas eram muito longos. Então, só deu para pintar manchas em todo o corpo. Ainda assim, por ser divina, a obra de arte ficou bonita: um lindo mosaico.
A meiguice da pomba inspirou-Lhe paz e tranqüilidade. Por esse motivo, pintou-a de branco e ela passou a ser a pomba da paz.
Aí veio a preguiça pós-prandial (aquela lassidão que acontece depois do almoço). O leopardo já estava pintado de um dourado lindo ao qual, aleatoriamente, Ele acrescentou esparsas manchas negras. Mas, graças a sua genialidade, ficou lindo.
Quanto ao pavão, Adão e Eva, que a tudo assistiam, comentaram não ter ele qualquer sex appeal. Aí, o Todo-Poderoso, num arroubo surrealista, usou muitas cores da sua paleta e criou com elas, na cauda do animal, um maravilhoso leque iriado. Uma obra-prima, irresistível para o elemento feminino.
Então chegou a vez do camaleão.
- Barbaridade! Que feinho você ficou. Mas agora, você já está seco. Assim, vou dotá-lo com duas cores que você poderá alternar para sobressair ou para se esconder no meio ambiente. Por fim, chegou a vez do vagalume.
- Olhe, bichinho, esqueci de dar asas a tua fêmea. Então, ao invés de pintá-lo com uma cor tipo “cheguei” e por terem vocês hábitos noturnos, vou dotá-lo de uma linda luz verde. Assim, a tua companheira poderá rastreá-lo na escuridão.
Terminado o serviço, o Criador foi descansar.
Foi quando as borboletas, temendo não serem alvo da atenção dEle, voaram até a paleta divina e banharam-se em cada uma das tintas, algumas em mais de uma.
No dia seguinte, embora tivesse ralhado com as pequeninas, a Divindade gostou do resultado da travessura.