Na minha juventude, pratiquei halterofilismo pelo glorioso Botafogo de Futebol e Regatas, na modalidade de levantamento olímpico.
O Leônidas, filho de tradicional família da elite carioca, e um dos nossos companheiros de equipe, dono de um escultural corpo masculino, resolveu lutar boxe e logo pelo Flamengo.
“Com a força que desenvolvi no halterofilismo, não vai haver quem resista a um só dos meus socos”, argumentava ele.
“Olha, isto não é bem assim”, aconselhávamos.
Depois de alguns meses de treinamento, ele me convidou para o seu début: campeonato carioca de estreantes, no Palácio de Alumínio, na avenida Presidente Vargas (a edificação era, na verdade, um circo fixo).
Da arquibancada, vi o meu amigo ser anunciado: próxima luta, pela categoria de pesos médios, representando o Clube de Regatas do Flamengo, Leônidas Cumplido Santana. Fiquei maravilhado e entusiasmado com a aparição do meu amigo profusamente iluminado pelos spots do ringue: trajando faiscante quimono de cetim, zero quilômetro, vermelho e decorado com detalhes em ébano e um reluzente calção negro com listas vermelhas em cada lado, tênis recém-comprado, meias de grife, era a própria imagem de um apolo.
Em seguida, o mestre de cerimônias anunciou:
“Representando a Associação Atlética dos Fuzileiros Navais, Claudionor da Silva.”
Aí, entrou um desengonçado representante da raça negra, trajando apenas um calção daqueles que já havia sido negro e que então era “ruço” e um surrado tênis, sem portar meias.
Então pensei cá comigo: “Barbada, o Leônidas não vai perder para um mocorongo como este”.
Começou a luta: Leônidas, cheio de estilo, saltitava nas pontas dos pés, enquanto Claudionor da Silva apenas fazia o cerco, caminhando pelo ringue. Após alguns segundos, o primeiro e único soco do adversário, na ponta do queixo do Leônidas, prostrou por terra o meu caro amigo.
Com os cotovelos apoiados nas cordas, no corner, Leônidas, semi-sentado e de olhos bem abertos, não se movia, até que a contagem do juiz atingiu os fatídicos DEZ. Não adiantaram meus frenéticos gritos: “Levanta, Leônidas, levanta Leônidas”.
Somente após alguns minutos ele teve condições de dirigir-se para o vestiário, onde fui ter em seguida.
“Leônidas, por que você não se levantou , você estava com os olhos abertos”, falei.
“E você pensa que eu sabia onde estava o chão ? Pois saiba que tudo rodava a “mil” em torno de mim, o que é que você queria que eu fizesse?”
Aquela, é claro, foi a primeira e última luta do Leônidas.