16 DE SETEMBRO DE 2024
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JOSÉ WARMUTH

23/08/2024 06:00

A lagarta

Caterpillar, este é o seu nome em inglês. A sua maneira de se locomover inspirou a adoção do seu nome para a famosa marca de tratores.

Ao rever algumas fotos que tirei, de flores, encontrei um close de um ramo de ipê amarelo em que há uma lagarta exatamente da mesma cor daquelas flores. Este é um recurso usado por alguns animais, como disfarce, para confundir seus predadores, conhecido pelo nome de mimetismo.

Então, comecei a descobrir algumas semelhanças entre este estágio larvário das borboletas, conosco, os humanos.

Uma espécie é uma tremenda comilona: em seus 56 dias de vida, devora o equivalente a 86.000 vezes o seu próprio peso. Outra há que demonstra ser muito preguiçosa: ao invés de tecer um casulo para se transformar em crisálida, simplesmente se enrola em uma folha, onde aplica dois “pontos” com uma substância colante. Desta, pouco difere de uma outra que se introduz em uma maçã.

Outra espécie de lagarta tem algo de antropófaga: sempre que sofre as mudas, para poder crescer, come a própria “casca”, perdida na muda.

As lagartas também sofrem discriminação: enquanto as demais são combatidas, por representarem uma das maiores pragas para a lavoura, as do gênero bombix (bicho da seda) recebem sua apetitosa ração de folhas de amoreiras para formarem o casulo do qual se extrai o valioso  fio de seda. 

Este processo foi mantido em segredo pelos chineses, por 3.000 anos, até que dois monges persas roubaram alguns ovos, levando-os para a região da Turquia, escondidos dentro de um gomo de bambu. 

A sua transformação em crisálida não chega a acontecer, já que as lagartas, nos casulos, são mortas por um jato de ar quente, operação que assistimos, ao vivo, em Kayserí, na Turquia. De cada casulo são extraídos até 4.000 metros de fio.

Mas é nas ações de defesa que as lagartas têm muito de nós, os humanos. Uma há que usa um abrigo antiaéreo contra os predadores: simplesmente se enterra no solo, para evoluir. 

Outra existe, a chamada lagarta-de-fogo (taturana), que tem em seus pelos uma substância urticante que causa queimaduras. Em outras, esta penugem tem péssimo gosto para os pássaros, que já sabem disto e evitam-nas como alimento.

Mestras em camuflagem, há as que tecem uma densa teia, sob a qual se alimentam e repousam sem que possam ser vistas. Outras têm manchas berrantes e estrias para que pareçam maiores do que são. Outras ainda há que exalam um tremendo mau cheiro.

Mas as campeãs são a lagarta-fraque, que exibe no dorso dois olhos enormes, que fariam inveja a qualquer miss, mas que, na realidade, são apenas manchas, para atemorizar os seus possíveis predadores, e a lagarta-cobra, que imita uma serpente, produzindo uma perfeita cabeça losângica com dois simulacros de olhos. É simplesmente surpreendente e inacreditável...

Pouco sabemos deste maravilhoso mundo de mini-criaturas, que, em geral, nos passa desapercebido.
 

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