Família da região dormiu no carro devido à interdição da rodovia após acidente
Os mais de 20 quilômetros de fila formados na BR-101 no domingo, após o acidente envolvendo um caminhão que tombou e incendiou na BR-101, no Morro dos Cavalos, fizeram com que centenas de pessoas passassem a noite inteira dentro dos carros na rodovia, que ficou interditada até as 5h da manhã de ontem.
O colunista do DS, Marcelo Valério, foi uma dessas pessoas. Ele estava voltando de São Paulo com familiares quando, por volta das 15h30, encontrou o trânsito parado, cerca de 15 quilômetros antes do acidente – que ocorreu aproximadamente às 13h.
Marcelo conta que alguns carros chegaram a entrar antes, em Santo Amaro da Imperatriz, para escapar do engarrafamento – e seguir um percurso bem maior e com infraestrutura precária -, mas ele já tinha passado desta entrada por não saber da situação real. “O pior é que quando paramos na fila e soubemos realmente o que estava acontecendo não tinha mais nem como voltar, porque não há esta alternativa de retorno, o que é uma falha grande”, pontua.
Da viagem a passeio tranquila à tensão foram ao todo 26 horas, pois só ontem, às 6h da manhã, Marcelo e sua família conseguiram prosseguir até Braço do Norte, onde moram. O trecho que levaria cerca de 2h para ser percorrido levou, quando o trânsito foi liberado, 3h30.
Livramento
“Mesmo com o trânsito liberado, a quantidade de veículos era muito grande, o que deixou o tráfego bem lento, agravado pela chuva. Chegamos em Braço do Norte por volta das 9h30”, conta.
“Passamos a noite inteira na fila, que só não foi pior pela solidariedade das pessoas. Os ônibus que ficaram parados também abriram as portas para as pessoas que precisavam usar o banheiro. Uns ajudavam os outros. Além disso, com as informações vindas da internet, saber que não houve mortos em um acidente daquela dimensão também foi um alento. Tudo poderia ter sido realmente uma tragédia. Ao passar pelo local do acidente é que vimos e sentimos o horror que foi. Certamente foi um livramento de Deus não ter ocorrido mortes”, desabafa.
Filas chegaram a 24 quilômetros ontem à tarde
Mesmo com o trânsito liberado desde às 5h da manhã de ontem, o fluxo de veículos seguiu intenso durante todo o dia na BR-101, principalmente na direção sul/norte da rodovia. Durante a tarde de ontem a fila chegou a 24 quilômetros.
De acordo com a Arteris, concessionária que administra o trecho do Morro dos Cavalos, o trânsito fluía lentamente e havia formação de fila entre os Km 244,6 ao Km 233, até Palhoça – 11 quilômetros. Mas a fila ia além do trecho da Arteris, começava em Paulo Lopes, administrado pela CCR Via Costeira, num trajeto de mais 13 quilômetros. A quantidade de veículos e a chuva contribuíram para o tráfego lento.
O trecho da BR-101 em Palhoça, na Grande Florianópolis, interditado após um caminhão tombar, explodir e incendiar veículos na tarde de domingo, foi liberado na manhã de ontem, após mais de 15 horas de trabalho. O local, conhecido como Morro dos Cavalos, foi interditado para o resgate das vítimas e limpeza do local.
Acidente gera manifesto
Os recorrentes e graves problemas registrados no Morro dos Cavalos refletem a omissão e o desrespeito do governo federal com Santa Catarina, avalia o presidente da Federação das Indústrias (Fiesc), Mario Cezar de Aguiar.
“Faixas adicionais numa rodovia com esse grau de importância são paliativos inaceitáveis e colocam os usuários constantemente em risco. A sociedade catarinense, com fundamental participação de nossa bancada federal, precisa intensificar a cobrança da solução definitiva, que é a construção dos túneis”, diz Mario Cezar.
Ele lembra que o projeto de duplicação da BR-101 previa a construção de dois túneis de 1,3 quilômetros e dois viadutos de 180 metros no local. Os projetos foram concluídos em 2010. A licença de instalação foi emitida em 2014, mas as obras nunca foram executadas. “Basta atualizar os projetos e a licença”, afirma.
A entidade propõe que a obra seja feita pela concessionária do trecho sul (CCR), que tem contrato mais longo.
A Associação Empresarial de Tubarão (Acit) também emitiu um manifesto. “Estamos novamente diante do mesmo problema: a interrupção do fluxo logístico neste trecho, comprometendo e impactando consideravelmente o setor produtivo e a comunidade”.