17 DE MAIO DE 2024
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Artigo: voto nu

Felipe Felisbino - Professor

02/05/2024 06:00|Por Felipe Felisbino - Professor

Ao analisar o exercício da cidadania pelo voto, partimos do pressuposto de que os eleitores escolhem votar naquele candidato que está mais identificado com ele, vota no candidato que esteja mais próximo do seu ponto de vista ideológico. Estaria esta postura ancorada na sofisticação política do eleitor? 

 

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Os eleitores, que são pouco informados, tomam as suas decisões a partir de elementos não ideológicos? Claro que não. Pesquisas apontam que os eleitores pouco sofisticados, do ponto de vista político, também escolhem os candidatos que estão mais próximos deles, que representam suas ideologias. 

Sem dúvida, para o pouco informado a ideologia é relevante na medida em que ela cria um atalho que elimina a necessidade de se manter informado, de analisar resultados e o esforço de pensar. 

Assim, é importante a autocrítica, avaliando o comportamento político e, em especial, qual é a importância da ideologia no comportamento eleitoral, ponderando sobre a utilidade da variável ideologia no entendimento eleitoral brasileiro. 

Mas é considerável notar que a noção de ideologia, com a qual estamos dialogando, não é aquela associada a um sistema de crenças estruturado, em que um eleitor ideológico seria aquele que possui um conjunto de opiniões políticas que são interconectadas e estáveis ao longo do tempo. 

O nível de sofisticação política do eleitor pouco influenciaria nesse processo. O cenário político atual dá indícios de que a ideologia permanecerá como uma variável importante nas eleições.

Esquerda e direita continuarão tendo um papel relevante.

As eleições de 2024 vão requerer do eleitor um voto nu: despido de preconceitos ideológicos e sem disfarces. 

Lembro Fernando Pessoa, por Alberto Caeiro: “Preciso despir-me do que aprendi. Desencaixotar minhas emoções verdadeiras. Desembrulhar-me e ser eu! Uma aprendizagem de desaprendizagem...”.

Despir-se de qualquer expectativa ideológica para não vestir nenhuma decepção. Ao despir nossa alma e mostrarmos, de fato, quem somos, o que trazemos em nossa intimidade, conseguiremos identificar os bem-intencionados, alinhando as expectativas, exercendo cidadania plena. 

A discussão sobre integridade, na escolha do candidato, remete a distintas dimensões: processos e pessoas. Os processos são íntegros quando estão claramente descritos, comunicados e, de preferência, contam com a relação dos trabalhos já realizados e avaliados pela pessoa.

A integridade eleitoral das pessoas se dá na transparência, nos relacionamentos e no exercício da empatia. Pessoas somente são inteiras quando conseguem enxergar o outro, mas não como meras projeções de si mesmas, do ângulo da sua verdade, de seu narciso. 

A integridade se fortalece quando aceito desafiar minha arrogância - intelectual, emocional, profissional - dando espaço ao exercício do conflito, mediado pelo diálogo, pelo respeito mútuo, pela humildade. 

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