27 DE JULHO DE 2024
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JOSÉ WARMUTH

17/05/2024 06:00

O colecionador de manequins

Jorge Taci Turno era um jovem de comportamento estranho: tímido, introvertido, filho único, solteirão, não tinha amigos e pouco se relacionava com os raros parentes que conhecia.
Tentativas para sua socialização foram feitas por psicanalista, sem êxito, porém. Continuou “esquisitão”. 

Por sorte, herdara de um tio, também celibatário e de temperamento parecido com o seu, uma ampla casa e boa soma em dinheiro suficiente para sua subsistência. 

Os seus ímpetos para conquistar uma namorada esbarravam na sua timidez e nos seus complexos de inferioridade.

Mas, na realidade, Jorge se sentia só e por isso a melancolia era sua eterna companheira.

Foi quando resolveu comprar um manequim, destes de loja, para não ficar tão solitário. Ele seria o seu irmão.

Como morava sozinho naquela ampla residência, resolveu comprar mais um para fazer-lhe companhia e ao primeiro manequim. Este tinha a figura de uma mulher e passaria a ser a irmã que ele nunca teve.

Jorge preocupou-se em vestir seus companheiros convenientemente, em salvaguarda do seu pudor.

E por que não adquirir mais alguns, já que o seu humor melhorara bastante com a presença dos seus dois novos amigos? 

Assim, comprou um outro, este articulado, que colocou sentado em uma poltrona, como se fosse um visitante.

Como sempre almejara ter alguém para fazer a sua comida, adquiriu um manequim bigodudo, que vestiu de mestre-cuca e colocou na cozinha, em frente ao fogão, munido de uma colher de pau, “mexendo” um petisco em panela de barro.

Certo dia, ao passar por uma loja de brinquedos, viu na vitrine um manequim promocional da “Barbie” em tamanho natural, vestida de rosa, é claro.

Ficou encantado com aquela boneca e conseguiu saber qual era o seu fabricante.

Encomendando uma igual, esperou ansioso pela sua chegada.

Retirando-a da caixa, ficou encantado com sua beleza nua: cabelos sedosos, face de menina-moça, seios firmes e miúdos, bumbum arrebitado, pernas esguias e bem torneadas.

Colocando-a de novo na caixa (para que os “demais” não a vissem), levou-a para a sua alcova, deitando-a sobre a sua cama.

De tanto admirá-la, acabou se enamorando perdidamente por ela.

Vestindo-a com um excitante “baby-doll”, deitou-se com ela, acarinhando o seu corpo inerte.

Nos dias que se seguiram, as balconistas do magazine de roupas femininas ficavam enciumadas e intrigadas a cada aparição do jovem, que ali comprava calcinhas, ligas, camisolas, tiaras e perfumes.

Quem seria essa amante secreta tão bem escondida por aquele moço?

Nove meses depois, Jorge comprou dois novos itens para a sua coleção: um bercinho e o manequim de um neném...

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