Escrito por Maurício da Silva, mestre em educação
As merecidas homenagens às mulheres no seu Dia Internacional, 8 de março, precisam ir além dos presentes, das mensagens, das flores etc. Precisam, também, lembrar o fato que originou a data ou, por desconhecimento ou conveniência, pode-se incentivar o que deve ser combatido.
O ocorrido no longínquo 8 de março, de 1857, em Nova Iorque, precisa ser mantido na memória coletiva para não ser repetido. Ao reivindicarem melhores condições de trabalho (eram jornadas de dezesseis horas diárias, insalubridade, perigo e baixos salários), dezenas de mulheres foram trancadas e queimadas, ainda enquanto estavam vivas, na fábrica em que trabalhavam.
Aquelas mulheres foram brutalmente assassinadas porque não aceitaram a exploração no trabalho. Esquecer aquele horrendo fato ou substitui-lo por comemoração, sem reflexão, contribui para proteger os que, ainda hoje, exploram pessoas para obter lucro e matam as que resistem ou denunciam.
É fundamental lembrar que o homem, de forma geral, não desistiu de explorar o seu semelhante para obter lucro. Passados 168 anos do massacre daquelas mulheres e 137 anos da “libertação” dos homens e das mulheres negras que foram escravizados no Brasil para aumentar a lucratividade de alguns, o trabalho análogo ao trabalho escravo - que vitima homens e mulheres negros e brancos - é notícia frequente, inclusive aqui em Santa Catarina. Tratar as empregadas domésticas como “da família”, para não pagar seus salários, também continua nos noticiários.
Portanto, é preciso homenagear a mulher no seu dia, todos os dias, das melhores e mais agradáveis formas possíveis, mas sem esquecer o fato que originou o 8 de março. Pode-se homenageá-las, também, ajudando a combater, principalmente, a discriminação (em média, a mulher estuda mais que o homem, mas está em quantidade menor nos postos de chefia e recebe salários menores), a baixa representatividade política (constituem maioria dos eleitores, mas são eleitas poucas vereadoras, prefeitas, deputadas, senadoras, governadoras, presidente da República etc.) e a violência (os casos de feminicídio aumentam assustadoramente).
O zeramento da fila de crianças para creches em Tubarão oportunizou a todas as mulheres trabalharem “fora de casa” e a conquistarem ou melhorarem a renda e, consequentemente, a autonomia, principalmente a financeira.
Proteger as mulheres e ampliar suas conquistas constituem, também, formas de homenageá-las e de melhorar a sociedade.