Cidadão professor, que também é nosso ouvinte na Rádio Cidade, escreveu ontem uma preocupante mensagem após eu ter manifestado preocupação com as deficiências da educação brasileira, tanto a pedagógica - das séries iniciais até o ensino médio, em alguns casos até com o superior - quanto as de moral e de costumes, que no passado era tarefa, não só permitida, mas praticamente exigida que fosse executada por professores e pais, mas que, todavia, nas últimas décadas tem sofrido tantas ingerências e regulações por parte do Estado que já nem sabemos mais se elas ainda existem.
A destruição do ensino
O texto do professor Rafael Ferrandin, com mais de 10 anos dedicado à rede estadual de ensino, não entra no mérito das questões relacionadas aos costumes e moral, mas, sim, sobre uma mudança anunciada nos últimos dias pela secretaria de Estado da Educação, que ele entende ser totalmente equivocada e que pode trazer consequências trágicas para o futuro dos nossos jovens estudantes. Vamos ler com atenção o que ele diz.
Ganha quem não estuda
“Bom, Milton. Aqui é o Rafael, professor também preocupado com o que disse hoje no seu programa. Está sabendo da última do governo em relação à Educação? Milton, a Educação sofreu mais um duro golpe com a equivocada regulamentação sobre a média de nota exigida para o estudante ser aprovado no final do ano letivo. Até então, para “passar de ano”, como a gente costuma dizer, o aluno precisava atingir a média 6,0 em cada um dos vários componentes curriculares. Ou seja: seis em matemática, seis em português, seis em história e assim por diante. Após a recente normativa, já publicada em Diário Oficial, a média usada para aprovação: de 6,0 continua, mas agora virou uma média global. Esclarecendo: pega-se todas as notas finais do aluno, somando-as e dividindo pelo número de componentes curriculares. Não importa se ele só atingiu média 4,0 ou 3,0 em algumas das disciplinas que fazem parte do currículo. Se nos outros componentes ele tirou notas acima do limite, que o faça atingir a média 6,0 global, o mesmo será aprovado. Em suma: alunos que fracassam em física, química, matemática, mas se saem bem em Geografia, Português e História - ou vice-versa -, provavelmente sairão da escola sem saber calcular, ou sem qualquer noção de matéria ou fenômenos naturais. Do mesmo jeito que os “sabidões” nas disciplinas de exatas poderão chegar na universidade sem saber quais os continentes da Terra, ou, até mesmo, em qual continente está situado o Brasil. Quem se beneficia com isto? Aqueles estudantes que não se esforçam e não entendem o valor do conhecimento global, e o governo, que para fazer SC se sair bem no Ideb, usa o caminho mais fácil, que é afrouxar a régua de avaliação para aumentar os índices de aprovação. Temos que reagir. Um abraço forte do Rafael Ferrandin”. Isto serve para refletirmos.