Vinícius Júnior inacreditavelmente não ficou com a Bola de Ouro de 2024. O jogador do Real Madrid tinha favoritismo absoluto graças ao seu protagonismo na conquista da Champions League, mas não foi o escolhido na premiação da Fifa. Parece não haver muitas dúvidas de que foi sutilmente punido pela sua ruidosa luta antirracista na Espanha. Pode parecer que isso não tem nada a ver com política, mas tem muito. É impossível analisar as eleições municipais deste ano sem levar em consideração o país e o mundo em que estamos vivendo. Na Europa, é considerado trivial que um atleta de excepcional desempenho técnico perca um troféu de tal importância por se atrever a denunciar a violência que sofre na pele; nos Estados Unidos, um ex-presidente bufão, que tem a desumanidade com imigrantes como bandeira quase única, é um candidato competitivo à Casa Branca. Dá para calcular a disputa brasileira sem colocar a onda global populista de extrema direita na conta? Nesse cenário dá até para avaliar que houve redução de danos.
Mais emenda, menos cloroquina
No Brasil houve, claro, um crescimento da direita. Mas notem: de uma direita mais tradicional, com histórico de respeito às instituições. Menos discurso antivacina, menos defesa de golpe e mais emenda parlamentar para alimentar as bases. Em “Assim caminha a humanidade” - que a minha geração há de lembrar como primeiro tema de abertura da novela Malhação -, Lulu Santos resumiu: “Não vou dizer que foi ruim/ Também não foi tão bom assim”.
A frente é ampla mesmo
Giovana Mondardo (PCdoB) foi reeleita vereadora de Criciúma – com a maior votação da cidade, por sinal. Certamente um ícone do que pode se chamar de “nova esquerda” no estado. Nesta semana ela esteve em Brasília, acompanhada do prefeito Vaguinho Espíndola (PSD), em uma ação conjunta em busca de convênios entre o município e o governo federal. É uma porta de diálogo que parecia impensável há duas semanas, mas que faz coro com a política de frente ampla adotada pela esquerda brasileira em 2022 e que certamente será intensificada em 2026.
Quem tem uma grande fortuna?
Vamos ponderar os resultados, sim, mas sem correr o risco de perder a conexão com o momento que vivemos. Nesta semana a Câmara dos Deputados reprovou a taxação de grandes fortunas. Qualquer sociedade democrática tem o princípio de cobrar mais de quem tem mais para igualar oportunidades e direitos. Aqui, porém, temos uma classe média que prefere pagar mais imposto para sustentar os privilégios dos especuladores.