Aos poucos se esvaem no tempo as curiosas expressões coloquiais faladas aqui no Sul de Santa Catarina, quando aqui chegamos nos idos dos anos sessenta.
- A senhora já esteve internada no hospital? - perguntei a uma mulher que se fazia acompanhar por uma menina.
- Só de família, doutor - foi a resposta, que não entendi.
Supondo ter sido a causa uma doença hereditária, pedi detalhes: “Que doença é essa, de família, que a senhora teve?”
- Não, doutor. Foi quando ganhei esta familinha aqui, e apontou para a menina.
“Ter família” significava ganhar um filho.
Nunca mais ouvi falar “arzira mi cucas” - que significava um desaforo: não estou nem aí.
Quase maliciei quando alguém me disse: “O senhor tem que entrar na cola da bicha”. O que queria dizer: entrar no fim da fila.
- Doutor, me dói os carrinho e até a chapa - foi a queixa de uma paciente. Somente depois vim a saber que carrinho é a mandíbula e que chapa é a dentadura.
Até hoje não sei ao certo a origem da expressão “mal-da-terra”, que era como então se chamava a necatorose, parasitose que pode causar anemia intensa pois o verme, uma vez instalado no intestino, alimenta-se do sangue da pessoa parasitada.
Duas hipóteses: a larva do bicho está na terra, penetrando pelos pés descalços, ou as vítimas, principalmente crianças, tinham o hábito instintivo de comer terra, em busca do ferro do qual ficavam carentes.
Faz tempo que não ouço mais dizer as “gostosas” palavras a seguir, folclóricas pelo regionalismo que encerravam:
Gastura – sensação de estômago vazio.
Flato – flatulência
Ir aos pés – defecar
Zipra – erisipela
Rastro de homem – esperma
Se clamar – queixar-se
Obrar – evacuar
Tremura – tremor
Embuxo – empanzinamento
Purgação – corrimento ou supuração
Bem, agora vou tomar uma purinha e depois rangar pois estou com ocura no bucho. Bye, bye, fellows.