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JOSÉ WARMUTH

27/06/2025 06:00

O alvorecer na nossa praia

Alta madrugada, quietude total. No céu, as estrelas já faíscam menos intensamente, como que sonolentas, esperando pela hora do seu merecido repouso.

Pela janela entreaberta penetra o suave odor da terra úmida e da relva orvalhada.

Lá pelas bandas do leste, sobre o mar, aparecem os primeiros alvores do astro-rei. O oceano parece ter-se incendiado lá no horizonte. Algumas nuvens são banhadas pela vermelhidão do sol e ali ficam como se fossem fumos daquele incêndio.

Então, ele mostra a sua face: primeiro “espia” para ver a imensidão que tem a sua frente. E vai se levantando. Agora, aquelas nuvens, matizadas pelo vermelho, mais parecem um manto ornado para receber uma divindade.

Sobre o mar, um facho de reflexos dourados parecem indicar ao sol o caminho a seguir.

As estrelas se “apagam”, ofuscadas por um brilho de maior grandeza. Somente a estrela Vésper mostra alguma rebeldia, sendo a última a ceder à presença de uma nova majestade.

Sonolentos também, olhando sol e mar, damos asas à imaginação: lá adiante, na África, já é quase meio-dia. Pensando no continente africano, vêm-nos à mente os animais da sua rica fauna. Imaginamos que, a esta hora, eles devem estar à sombra de frondosas árvores, resguardando-se do sol, em gostosos cochilos.

A magia das ondas, que agora já são azuis, no seu marulhar incessante, nos atraem até a beira do mar. Serpenteando pela areia dourada, o Arroio Corrente abre caminho, desbarrancando volumosos torrões de areia em suas margens. Silenciosamente lança suas águas no mar. Elas voltarão às suas nascentes, com a chuva, no infindável ciclo das águas.

Decidimos molhar os pês. A água está gelada. Uma corrente vinda da Antártida, pensamos. Voltando-nos em direção à terra firme, vemos a correria de um pequeno siri que dormia em sua toca na areia. Logo, logo ele desaparece nas águas rasas da arrebentação.

Um bando de andorinhas e uma solitária tesourinha povoam a fiação entre postes, todas olhando em nossa direção. Sentimos o orgulho de um mega-star com toda aquela plateia e até ensaiamos cantar, a plenos pulmões, aquela música que diz “as andorinhas voltaram e eu também voltei”, com o que elas se assustam, alçam voo e nos deixam, decepcionados, em plena praia a ver navios.

Assim é a alvorada na praia do Arroio Corrente.

Diário do Sul
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