21 DE DEZEMBRO DE 2024
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JOSÉ WARMUTH

13/09/2024 06:00

Aventuras de uma poliglota

Transcorria o ano de 1938, quando, a 12 de março, Hitler resolveu “anexar” a Áustria ao Terceiro Reich (terceiro império alemão). O termo anexar (anschluss) era, na verdade, uma invasão e submissão política ao nazismo e até encontrava adeptos entre alguns cidadãos da nação invadida, pelo fato de Hitler ter nascido na Áustria e de existir, no país, uma espécie de partido ilegal chamado por nazismo austríaco.

Algum tempo depois, minha tia Bete, então com 28 anos, e todas as demais moças vienenses, foram convocadas para uma entrevista, pelos oficiais alemães.

Chegando a sua vez, além dos seus dados pessoais, um questionário lhe foi imposto:

Profissão ? Professora de inglês.

Experiência profissional? Cinco anos.

Prendas domésticas? Nada em especial.

Alguma outra habilidade? Não.

Línguas faladas? Além do alemão, sua própria língua, inglês, francês e grego (ela havia passado um ano em Atenas).

Ao fim do interrogatório, o oficial lhe deu duas opções: trabalhar em uma fábrica de munições, que eles estavam instalando em Viena, ou colaborar no sistema de comunicações da Luftwaffe (força aérea alemã).

Um certo espírito de aventura fez com que Bete escolhesse a segunda opção. Só não sabia que seria enviada para a cidade de Nimes, na França, então invadida por Hitler. Ali, ela operava o rádio, em comunicação com as esquadrilhas de Messerschmitts, cujos pilotos só ficavam sabendo, através dela, já em pleno vôo, qual seria o seu alvo. Isto para impedir um possível vazamento do detalhe para o serviço de espionagem do inimigo.

Não foram poucas as vezes que Bete recebeu ordens para alertar os aviões alemães de que os ingleses, em seus Spitfire (cospe-fogo), estavam indo ao seu encalço.

Quando não havia aviões no céu, minha tia tinha, como tarefa, ouvir a BBC de Londres, tentando captar alguma informação importante, ou procurar alguma comunicação por rádio, da resistência francesa, na tentativa de decifrar sua linguagem cifrada.

Então, veio a malograda tentativa de desembarque em Dunquerque e, posteriormente, a bem sucedida invasão da Normandia. 

Tia Bete, que, por imposição dos nazistas, usava o uniforme cinza alemão, teve que dar muitas explicações aos americanos sobre o que fazia uma vienense em Nimes, fardada como uma oficial tenente alemã, trabalhando para a Luftwaffe. Ficou dois meses presa, até conseguir convencê-los de que era obrigada a fazer o que fazia.

Diário do Sul
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