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A mudança de critério (média global) para aprovação dos estudantes da rede estadual contribui para que Santa Catarina apareça melhor no Ideb e colha dividendos, mas prejudica os próprios estudantes e a economia do estado.
Pela fórmula do Inep, quanto menor a taxa de reprovação, maior o Ideb. Aparentemente, um avanço, porque pressupõe que menor reprovação decorre de maior aprendizado. Mas pode decorrer, também, da aprovação compulsória dos estudantes ou da diminuição de exigências para aprovação.
A rede estadual de ensino já faz as duas coisas. Não reprova os estudantes nas 1ª, 2ª e 4ª série do ensino fundamental e, nas que reprova, baixou a média, de 7,0 (sete) para 6,0 (seis), conforme Portaria n.189 de 09/02/2017, e reduziu de 4,0 (quatro) bimestres para 3,0 (três) trimestres. Ou seja, em vez de 28 (vinte e oito) pontos anuais para ser aprovado, o estudante passou a precisar de apenas 18 (dezoito). E, quanto menor a exigência para aprovação, menor o esforço, e consequentemente, menor aprendizado. Lembram do texto: “Ideb real ou inflado artificialmente?” É o caso.
A “média global” diminui ainda mais as exigências para aprovação do estudante. Ele não precisará aprender para aprovar, por exemplo, Língua Portuguesa e Matemática, desde que compense em outras “matérias”. Veja no exemplo: Se o estudante cursa cinco disciplinas e tirou nota 6 em uma, nota 2 em duas e nota 10 nas outras duas, estará aprovado, porque 6+2+2+10+10=30 e 30/5=6. Média global é média aritmética (soma as notas das disciplinas e divide pelo número de disciplinas). Esconde a dificuldade do aluno em uma “disciplina”, que se agigantará, em vez de enfrentá-la.
É fundamental lembrar que Língua Portuguesa e Matemática ainda são as “matérias” que os estudantes mais reprovam (o Pisa e o Pirls demonstram que os estudantes brasileiros estão no fim da fila nestas áreas). Mas são estruturantes para aprendizagem das demais. Estudante que não sabe ler, escrever e interpretar textos não resolve problemas das demais “matérias”, porque não compreenderá o enunciado. Imagine estruturar uma redação. Se não aprende matemática básica, não aprenderá as demais etapas desta área.
A “média global” ajuda a rede de ensino a aparecer “bem na foto” do Ideb, mas prejudica os estudantes, principalmente, os mais pobres, que precisam dos conhecimentos, sobretudo os estruturantes, para conquistarem emprego e renda melhores e romperem o ciclo da pobreza. Prejudica, também, o estado, que precisa de mão de obra qualificada para uma economia cada vez mais digitalizada. É um problema ético, também, em relação aos estados e municípios que buscam aumentar a aprovação por meio da melhoria da aprendizagem. Jamais por meio de artifícios.
A rede municipal de ensino de Tubarão melhorou a aprendizagem por meio do projeto “Sucesso Na Escola, Na Vida e no Trabalho”.