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Artigo: O humor faz rir do quê?

20/03/2023 06:00

Felipe Felisbino - Professor


Fazer humor se realiza numa dinâmica muito pessoal, como forma de expressão do pensamento, contudo, a liberdade de expressão no humor não deve ser confundida com falta de caráter, em que o princípio moral dá lugar à ofensa, ao achincalhamento, à falta de respeito aos cidadãos de uma cidade. Isto porque a liberdade jamais terá um caráter absoluto, como já reconhece a sabedoria popular: “a liberdade de cada um termina onde começa a liberdade do outro”.


O humor “negro” tem sido encarado com naturalidade nos mais variados meios sociais e de expressão. Nessa direção, surgem os questionamentos relacionados ao “politicamente correto”, que tendente a patrulhar as falas em nome de um discurso que rechaça todo e qualquer tipo de exploração das diferenças, por exemplo.


Aqui o “politicamente correto” deveria ser objeto de análise, pois não é possível conceituar o que seja humor “negro” – até porque a expressão é totalmente carregada de preconceito, sem apelo, então, prefiro o termo humor ácido ou depreciativo.


A sociedade evoluiu acerca da liberdade de fazer humor, pois, à época, “Os Trapalhões” exploravam conteúdo de cunho racista ou homofóbico, hoje nem pensar. Textos de humor do passado podem causar estranheza da mesma forma que foi apreciado como humor.


Mesmo assim, ainda existem alguns com a capacidade de provocar o riso, outros, porém, por força da natural mutação cultural, da maturidade social e linguística, se tornaram incompreensíveis, ou seja, ao nos depararmos com textos antigos percebemos que o tempo rompeu a natural reação ao cômico, com olhar criterioso para o autor, para o ouvinte – plateia e a vítima da piada.


Quando rimos de piadas consideradas imorais, somos igualmente imorais, talvez. Em que medida as piadas depreciativas contribuem para o acirrar das divergências, ou contribuem positivamente?


O humorista se vale de materiais sensíveis à sociedade para desencadear o riso, que é o seu objetivo, mas será que é possível rir de tudo? Ou a humilhação se naturalizou?


Sem dúvida, o humor ultrapassa o simples fazer rir, podendo tornar-se uma arma, que atinge o equilíbrio psicológico e social, mesmo que ele apresente uma visão de mundo e das realidades naturais, ou culturais, que rompem o silêncio, permitindo a crítica, quando ela seria impossível de outro modo.


Essa forma negativa de fazer humor se utiliza de temas mórbidos ou de tabus, pois macula o alvo, cria e também acirra estereótipos, independentemente dos segmentos da sociedade, enfim, causa desconforto de forma politicamente incorreta ao enfrentar questões complexas de serem abordadas, com a finalidade de provocar o riso e, eventualmente, séria “reflexão”.


Na Grécia antiga, o humor ácido era exercido pelos bufões – pessoas de classe inferior que tinham oportunidade de participar das festas mais requintadas para fazerem gracejos, ganhando a oportunidade de participarem dos festejos.


Assim, surge a figura do bobo da corte. Seja na condição de autor, ou espectador, não sejamos um bobo da corte. O senso do humor ácido não prima pelo bom senso, adora atacar grupos e pessoas, é um humor que humilha e desabona, rindo.

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