“A coisa tá….”, “serviço de ….”, inveja …”, “negro de alma...”. Se você conhece o final dessas expressões, te convido a ler esta crônica até o fim e a refletir seriamente sobre o tema de hoje: racismo.
O fato dessas expressões terem atravessado séculos resistindo de maneira tão naturalizada no vocabulário brasileiro diz muito sobre a sociedade em que vivemos. O racismo tem raízes profundas e é uma triste realidade histórica que ainda hoje se manifesta, tanto de maneira sutil como brutal. Enquanto algumas formas de discriminação racial são evidentes e denunciadas prontamente, outras são ardilosas e difíceis de identificar, mas igualmente destrutivas.
O racismo no Brasil tem uma história complexa e multifacetada, que evoluiu desde o período colonial, com a escravidão, em que os negros foram desumanizados e considerados propriedade do senhor de engenho. Além de serem usados de mão de obra na lavoura, na mineração, servindo nas casas, as escravas eram vítimas de prostituição, pois eram frequentemente submetidas à exploração sexual e obrigadas a “servir” seus senhores. Como se não bastasse o trabalho escravo ter durado três séculos no Brasil, nosso país foi o último do Ocidente a abolir a escravidão, e também o que teve o maior número escravos nas Américas. A Lei Áurea foi sancionada há 136 anos, não pelo fato da princesa Isabel se solidarizar com a causa abolicionista, mas sim como resultado de um longo processo de lutas e rebeliões dos escravizados.
É triste constatar que ainda hoje o racismo estrutural permeia a sociedade, nas instituições, nas relações interpessoais, nos espaços de poder e até pelo jeito de falar. A associação da cor preta a algo negativo fica evidente em frases que ouvimos no nosso dia a dia, como: você está na minha “lista negra”, ela comprou o computador no “mercado negro” ou ele é a “ovelha negra” da família.
Essas expressões podem parecer inofensivas, mas carregam conotações racistas e perpetuam estereótipos e preconceitos.
Assim como a erva daninha no jardim, o racismo é insidioso e infiltra em todos os cantos de nossa sociedade, às vezes de maneira quase imperceptível. Eliminar ervas daninhas requer vigilância constante e ação decidida. Não basta simplesmente cortá-las na superfície; é necessário arrancá-las pela raiz para que não voltem a crescer. Da mesma forma, combater o racismo exige um esforço contínuo e sistemático. Precisamos abordar não apenas as manifestações óbvias do racismo, mas também as suas raízes profundas, que estão arraigadas em preconceitos históricos, sufocando a diversidade e impedindo o crescimento saudável de uma sociedade mais humana e igualitária.