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RENATA DAL-BÓ

27/03/2024 06:00

Rachel de Queiroz – Nossa primeira imortal

Ahomenageada de hoje, fechando a série do Mês da Mulher, é Rachel de Queiroz, primeira mulher a entrar para a Academia Brasileira de Letras, em 1977, rompendo a tradição, depois de 80 anos, de que apenas escritores homens poderiam ser membros da ABL. Em 1993, foi também a primeira mulher laureada com o Prêmio Camões. Nascida em 1910, em Fortaleza/CE, nos seus 93 anos de vida foi tradutora, romancista, escritora, jornalista, cronista e importante dramaturga brasileira.

Descendente pelo lado materno da família de José de Alencar, Rachel estreou na literatura com apenas 20 anos, ao publicar “O Quinze”, em 1930, romance de fundo social, profundamente realista na sua dramática exposição da luta secular de um povo contra a miséria e a seca. “O Quinze” ao se referir à grande seca do Nordeste, em 1915, vivida pela escritora em sua infância, inclui Rachel no ciclo nordestino, convertendo em ficção o homem e a terra, no drama regional. A escritora é uma das principais representantes do modernismo brasileiro e uma das mais notáveis referências na história literária e cultural das mulheres do século XX.

Rachel percorreu quase todos os gêneros literários ao realizar sua escrita, de personagens especialmente reais e marcantes, sempre preocupada com a posição dos indivíduos no conjunto da sociedade. Sua obra inclui sete romances, grande número de contos, peças teatrais e histórias para crianças. Por quase 30 anos, entre 1945 e 1975, Rachel escreveu crônicas semanais para a revista “O Cruzeiro”, deixando um registro importante sobre o contexto sociopolítico da época. Além disso, a escritora traduziu mais de 100 títulos estrangeiros, entre os quais obras de Emily Brontë, L. Tolstoi e F. Dostoievski. 

Conforme a pesquisadora e escritora Nelly Novaes Coelho, Rachel de Queiroz “revela em seu universo literário a crença de que o humano se caracteriza pela vida do espírito, aquela que decide, no íntimo sentir de cada um, o verdadeiro valor das coisas, pois reduzidas a si mesmas, elas não valem nada. Consciente de que toda mudança estrutural, em qualquer sistema social, depende visceralmente de mudanças profundas na consciência ou mentalidade de cada indivíduo. Rachel cria um universo dramático, mas fundamente permeado por uma intensa paixão pela vida e sede de comunhão humana”.

Rachel foi homenageada por vários escritores, entre eles o poeta Manuel Bandeira, que escreveu para ela a prece em poesia “Louvado para Rachel de Queiroz”: “(...) Louvo o Padre, louvo o Filho, o Espírito Santo louvo. Louvo Rachel e, louvada uma vez, louvo-a de novo. Louvo a sua inteligência, e louvo o seu coração. Qual maior? Sinceramente, meus amigos, não sei não (...)”.

Em uma entrevista, Rachel diz que para cada escritor há uma razão diferente ao escrever. No caso dela seria o desejo interior de dar um testemunho de seu tempo, de sua gente e principalmente dela mesmo: “eu existi, eu sou, eu pensei, eu senti, e eu queria que você soubesse. No fundo, é esse o grito do escritor, de todo artista”.

Não chego aos pés de Manuel Bandeira, mas louvo Rachel, pelo seu talento, coragem e delicadeza. Louvo Rachel por ter dado voz às escritoras e jornalistas brasileiras. Mas, conforme Bandeira, “chega de louvação, porque, por mais que a louvemos, nunca a louvaremos bem. Em nome do Pai, do Filho do Espírito Santo, amém.” 

Diário do Sul
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