Olhei para o calendário e levei um susto: faltam apena três dias para novembro.
Não sei em que esquina o tempo fez a curva sem me avisar. Juro que ainda sinto o frescor de janeiro, as expectativas de fevereiro, as águas de março... e, de repente, estamos no penúltimo mês do ano — esse senhor apressado que não olha para trás e segue passando, mesmo quando pedimos um pouco mais de calma.
O tempo, esse artigo de luxo, anda cada vez mais caro. Não há loja, aplicativo ou brechó que o venda. “Compra-se tempo, paga-se bem!”, dizia um anúncio que vi anos atrás — e continuo esperando que alguém leve a sério a proposta. Porque, sinceramente, estamos todos falidos de tempo. Falidos de pausa. Falidos de respiro.
Quando éramos crianças, os dias tinham outro tamanho. As férias pareciam eternas, os natais demoravam uma vida para chegar, e uma simples tarde de brincadeira cabia dentro de um mundo inteiro. Já adultos, o tempo contraiu-se, tornou-se avarento: uma semana evapora como um gole de café, um ano desaparece num piscar de olhos. Será que o tempo anda mais rápido, ou somos nós que andamos correndo demais?
A psicologia diria que o tempo é elástico — e que a percepção dele depende do que fazemos. Uma hora de espera no consultório parece um século; uma tarde entre amigos, um segundo. O relógio é o mesmo, mas a alma é quem marca os ponteiros. Talvez o problema não seja o tempo que passa, mas o tanto de vida que deixamos de viver enquanto ele passa.
Vivemos cercados de engenhocas que prometem economizar minutos, mas nos roubam horas: celulares, notificações, e-mails, reuniões intermináveis. Multiplicamos as tarefas e dividimos o tempo até não sobrar nada para nós mesmos. E, quando finalmente paramos, percebemos que o relógio correu — e que a vida correu junto.
Não sei você, mas eu tenho vontade de propor um pacto ao tempo: que ele caminhe mais devagar quando estivermos felizes e acelere apenas nas horas de espera. Mas ele, impassível, não negocia. Por isso, talvez o segredo seja desacelerar por dentro, mesmo que o mundo insista em correr lá fora.
E se novembro chegou sem avisar, que dezembro ao menos nos encontre presentes — de corpo, alma e tempo. Porque o tempo, quando bem vivido, se transforma em eternidade.