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RENATA DAL-BÓ

05/03/2025 06:00

Às que virão depois de nós

Mais uma vez, aqui estou diante da tela em branco. O Dia Internacional da Mulher se aproxima e sinto o peso e a responsabilidade de escrever algo que esteja à altura da data. Não é uma missão simples. Porque falar sobre mulheres não é só exaltar conquistas ou recordar lutas; é também reconhecer os desafios que ainda enfrentamos e, sobretudo, reafirmar a coragem de seguir em frente.

Escrever, aliás, sempre exigiu coragem. Cada palavra que escolhemos, cada ideia que ousamos expressar carrega um pouco da nossa essência. E foi essa ousadia que permitiu que, ao longo da história, mulheres deixassem sua marca nas letras, na ciência, na política, nas artes, na vida. Não foi fácil para elas. Não é fácil para nós. Mas seguimos em frente.

Quando penso nas que vieram antes de mim, imagino o que sentiram ao enfrentar os olhares de desconfiança ao desafiar normas impostas, ao reivindicar espaços que não lhes eram concedidos. Penso em Bertha Lutz e sua incansável luta pelo voto feminino, em Carolina Maria de Jesus e sua voz potente surgida das favelas, em Clarice Lispector e sua escrita que desafiava o óbvio. Mulheres que ousaram ser, apesar de tudo.

E nós? O que fazemos com essa herança? O que estamos construindo para as que virão depois?

Escrever é lembrar que cada linha traçada é um ato de resistência. Que cada escolha nossa – seja no trabalho, na criação dos filhos, na arte, na ciência, na política – precisa ser feita com a consciência de que não chegamos até aqui sozinhas. Nem podemos seguir sozinhas. Somos parte de uma corrente que se entrelaça, geração após geração, sustentando sonhos, abrindo caminhos, mantendo viva a esperança de um mundo mais justo.

Apesar do medo que, por vezes, nos invade, não podemos temer a página em branco, assim como não podemos temer a vida. O que nos move é o desejo de transformar, de inspirar, de continuar. Porque escrever é mais do que um ato individual. É um ato coletivo, um compromisso com o tempo, com a memória, com o futuro.

E que possamos, sempre, ousar. Ousar escrever, ousar falar, ousar viver. Por nós e por todas as que virão.

Diário do Sul
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