Não tem como não deixar de lamentar as desavenças surgidas nestes últimos dias entre familiares do inesquecível Anderson Martins, o sargento bombeiro coordenador regional da Defesa Civil, que, mais ou menos um ano atrás, morreu afogado no Rio Tubarão quando tentava resgatar um jovem suicida que havia se jogado da ponte Manoel Alves dos Santos, no Morrotes.
A reação para salvar
Anderson, que passava pelo local como passageiro de um carro de aplicativo, ao se deparar com a cena, não pensou duas vezes. Solicitou ao motorista que parasse o veículo e, por uma das margens, se jogou nas águas para resgatar o jovem. Tudo indicava que teríamos um verdadeiro ato de heroísmo, reservado a homens honrados, de caráter e forte solidariedade – princípios que sempre o acompanharam. Todavia, o que aconteceu a partir do momento em que ele atingiu as águas foi um amontoado de fatores inusitados da natureza, que culminou numa verdadeira tragédia.
As armadilhas da natureza
O sargento, que, além de bombeiro militar e coordenador regional da Defesa Civil, era também professor de técnicas de salvamento, muito provavelmente, dominado pelo altruísmo de quem não se importa de colocar em risco a própria vida para salvar um semelhante – não deve ter levado em conta que as condições da água poderiam ser totalmente adversas àquele tipo de ação. E eram.
A correnteza e a hipotermia
Apesar da pouca alteração de nível, as chuvas que caíram em dias anteriores deixaram as águas do rio bastante turvas, com forte movimento no fundo, com redemoinhos e temperatura bastante baixa. Os que participaram da tentativa de salvamento revelaram que parecia água gelada. Tudo isso levou Anderson a fazer um esforço sobrenatural. Com a baixa temperatura da água e a exaustão, foi atacado pela hipotermia, e nem a ajuda de dois policiais militares, que passavam numa ronda pelo local e optaram por se jogar nas águas foi suficiente para salvar tanto Anderson quanto o jovem suicida. Um dos PMs chegou a carregar Anderson por alguns metros em direção à margem, mas confessou que teve de largá-lo porque também estava perdendo forças em virtude da hipotermia.
Os PMs e os bombeiros
Essa foi, até então, a história que conhecíamos, sem que, em nenhum momento, tivéssemos qualquer alusão a “possíveis falhas ou negligência na operação de salvamento”. Agora surge, por parte da viúva, um vídeo que mostra a chegada de uma viatura com dois bombeiros, que nem na água entraram, justificando que imaginaram que a situação estava sob controle dos PMs, e por isso ela está processando a instituição Corpo de Bombeiros e o Estado de SC. Acontece que os pais e os irmãos de Anderson são contra a ação, e um racha se estabeleceu, inclusive com embates e trocas de farpas nas redes sociais e na imprensa. Que pena que isto esteja acontecendo.