O comércio pode passar por enormes dificuldades e alguns segmentos dele, inclusive, até mesmo colapsar. Este alerta foi feito por Sillas Souza, economista, entusiasta das relações sociais e professor da Faap–SP, ao responder numa entrevista ao Portal Brasil o que achava da redução da carga de trabalho de 44 para 36 horas semanais, com a consequente alteração da escala 6 x 1, mudanças propostas recentemente pela deputada federal Erika Hilton (PSol-SP). Segundo Sillas, este setor está entre os que mais podem sentir impactos negativos com a redução de jornada.
Mais informais
Além disso, a mudança também pode provocar o aumento da informalidade nas relações de trabalho, que hoje, no Brasil, já chega a quase 40%. Na entrevista, que eu acompanhei atentamente na tarde de ontem, e devo – inclusive – reproduzi-la na íntegra em nosso programa na manhã desta terça-feira na Rádio Cidade, o professor destaca também que há um axioma norteador de toda ciência econômica tradicional, chamado de princípio utilitarista da racionalidade.
Prefeririam ficar em casa
Ele faz questão de destacar que o nome é feio, mas sua ideia é simples. Segundo ela, qualquer pessoa, em qualquer tempo, preferirá obter, sempre que puder, o máximo possível de vantagens pelo mínimo possível de sacrifícios. Se a ciência econômica estiver correta, e entendermos que o trabalho representa, de alguma forma, algum sacrifício, podemos pensar que brasileiros, afegãos, americanos, russos, e até mesmo padres beneditinos, prefeririam não trabalhar, se pudessem.
Dificilmente dará certo aqui
Agora, o interessante mesmo foram as respostas dadas quando questionado sobre o fato de que o novo modelo, além de já ter sido aprovado em alguns países da Europa, também foi recebido com bons olhos por trabalhadores e empresas que o adotaram nos testes-pilotos realizados aqui no Brasil. Sillas admite que os dados são positivos, porém, não acredita que dê certo em nosso país.
São realidades diferentes
“Na maioria dos países essas medidas surtiram efeitos positivos porque resultaram em tempo maior com a família, mais descanso e mais frequência em cursos de aprimoramento profissional. Essas, e outras coisas combinadas, resultaram em maior produtividade, o que compensou as horas não trabalhadas. No entanto, o que aconteceu nesses países, até onde eu vejo, não irá acontecer no Brasil, ao menos não para a maior parte dos trabalhadores, e as razões são diversas”.
Sem forçar a barra
Segundo o professor, as instituições formais e informais envolvidas, aqui e lá, são muito distintas. Nosso mercado de trabalho, nossa legislação trabalhista e, principalmente, nossa produtividade média é significativamente diferente desses países, destaca. Silas encerra a entrevista alertando que não se pode impor nada ao empresariado brasileiro.