Artigo
Nós, da faixa etária entre 45 e 65 anos, somos uma geração privilegiada, temos a graça de sermos ponte entre dois mundos, o analógico e o digital. Vivemos as cartas, vimos a máquina de escrever, o computador, a chegada da internet, do e-mail, as máquinas que entendem e respondem com naturalidade, a inteligência artificial evolui a cada minuto.
Mais do que observar, nós vivemos essas mudanças. Adaptamo-nos ao novo mundo sem esquecer o anterior. Carregamos em nós a memória de tempos mais lentos, mas também a capacidade de lidar com a velocidade das transformações contemporâneas. Não fomos espectadores passivos, mas protagonistas. Também experimentamos revoluções sociais e culturais profundas, novos modelos de trabalho, as relações sociais ganharam novas formas e o mundo se tornar, de fato, globalizado.
Hoje, convivemos com a Geração Alpha, que cresce em um universo altamente conectado, cercada de telas, algoritmos e inteligência artificial. Ela é moldada por uma era de incertezas, crises ambientais e sociais. Porém, ao mesmo tempo, essa nova geração traz consigo uma consciência ampliada sobre diversidade, inclusão e responsabilidade planetária. Nasce digital, sim, mas também mais atenta, mais crítica, mais aberta. O futuro que vislumbramos pode ser mais empático, sensível e colaborativo. Na expectativa da Geração Beta, as gerações deste momento devem de se preparar para inspirar, orientar e dialogar com os que virão, para que a tecnologia não substitua a humanidade, mas a potencialize.
A frieza não está no chip e nem todo código é frio. A tecnologia não é sinônimo de frieza. Pode ser ponte ou barreira. Cabe a nós orientarmos os que hão de vir, para que não se percam em si mesmos. O mundo tecnológico oferece riscos à sensibilidade humana, se não for equilibrado com experiências afetivas, presenciais e simbólicas, pois, no fundo, não se trata de ser tecnológico ou não. Trata-se de continuar sendo humano com: presença, afeto, tempo, olhar, corpo, escuta e silêncio.
A maturidade humana adquirida nas travessias geracionais derrete na ação de alguns que incorporam os bebês reborn, bonecos ultrarrealistas, os quais se parecem com recém-nascidos, adotados por adultos que os tratam como filhos: vestem, alimentam, colocam para dormir. Em princípio, parece apenas uma extensão inofensiva do afeto. Entretanto, também pode revelar um esvaziamento profundo da afetividade real, substituindo o toque humano pela fantasia, anestesiando a ausência do outro, o toque verdadeiro, o calor do abraço, o cheiro da pele.
A realidade nos chama: é preciso reconectar o humano com o humano. Não apenas simular vínculos, mas vivê-los com a capacidade de amar e sermos amados em presença.