Ronaldo Amboni/Ds A cooperação entre os botos e os pescadores de Laguna transcende a cumplicidade. Prova disso, foi um fato registrado no domingo, na região da Tesoura, nos Molhes da Barra. O boto, que é fêmea e identificada como Fúria, ficou preso com um tarrafa.
Paulo Rodrigo Silva dos Santos, de 35 anos, estava com outros pescadores na água quando lançaram as redes. Na hora de puxá-las de volta perceberam que, acidentalmente, o objeto havia ficado preso no animal. “Rapidamente, passamos a monitorar se ela se soltaria. Sem sucesso, iniciamos uma operação para tentar retirar a rede da Fúria”, fala Paulo.
Em duas canoas, quatro pescadores foram ao encontro do boto fêmea, que eles já conheciam. “Chegamos perto e ela nos mostrou que estava com a rede engalhada nela. De uma forma que não conseguimos explicar, ela nos reconheceu e se aproximou. Entramos na água e, com uma faca emprestada por artesãs, conseguimos retirar a tarrafa”, conta Paulo.
A ação foi flagrada pelo fotógrafo lagunense Ronaldo Amboni. “Essa foi a primeira vez que a gente conseguiu ir atrás do boto e soltá-lo da rede. Foi interessante”, contou o fotógrafo. Ao todo, segundo Paulo, foram cerca de 30 minutos de trabalho até que o material fosse retirado do boto.
Fúria volta para agradecimento
De acordo com Paulo, várias vezes ele já registrou o engalhe de rede no boto. “Porém, eles conseguiam sair. Desta vez, foi preciso intervir. Foi algo emocionante pela cooperação que eles têm conosco e nós, enquanto pescadores, respeitamos muito isso”, completa o pescador. Ontem, Paulo retornou ao local onde aconteceram os fatos. “E fui surpreendido pela Fúria que, ao se aproximar, bateu com a nadadeira como se tivesse confirmando que está tudo bem. Chego a ficar emocionado”, diz. Laguna possui o título de Capital Nacional dos Botos Pescadores. Os animais são conhecidos pelo comportamento peculiar por realizar a pesca cooperativa com os pescadores artesanais da região.