Eu sou o sal de cozinha. No meu cromossomo, um gene do bem, que é o cloro, e um do mal, o sódio.
Por quê? Porque esta minha metade é que faz mal aos hipertensos.
Por isso, os doutores mandam que as pessoas que têm problema de pressão alta comam tudo insosso.
Isto é ruim para quem me industrializa e para a economia do Rio Grande do Norte, principalmente para a cidade de Areia Branca.
Mas como comer pipoca, batata frita, ovo duro e churrasco sem mim?
Já nos tempos da Roma Antiga, eu era importante: Valia como o dinheiro de hoje. Os centuriões recebiam-me em saquinhos como parte do pagamento do seu salário. Aliás, salário tem este nome por minha causa.
As pessoas esqueceram do importante papel que desempenhei aqui no Sul de Santa Catarina, ao salgar as carnes suínas produzidas na região e assim conservá--las para a exportação. Não havia refrigeração naquela época.
Pouca gente sabe também que sou tão valioso quanto as pedras preciosas: mundo afora existem minas de sal. As que são desativadas tornam-se atrações turísticas, como o são as de Bogotá e de Wieliczka, na Polônia, que exibem surpreendentes esculturas em sal, verdadeiros monumentos à nossa memória.
Aliás, também estou presente em outra atração turística: o Salar de Uyuni, na Bolívia, um deserto de sal que tem mais de dez mil quilômetros quadrados.
Quando se quer dizer que uma mulher é formosa, mas desinteressante, diz-se: “bonita, mas sem sal”.
Isto define o meu “peso” na culinária, onde tenho presença milenar mesmo sendo usado em quantidades ínfimas.
É muito comum dar-se sal às vacas, com o que produzem mais leite. Será que elas não ficam hipertensas?
Vez por outra apareço na literatura e na poética, pois existe coisa mais bela do que um céu salpicado de estrelas?