Não há qualquer dúvida de que a manifestação do presidente Lula na cúpula dos países emergentes, o Brics, desencadeou a reação de Donald Trump.
“Acho que o mundo precisa encontrar um jeito de que a nossa relação comercial não precise passar pelo dólar. Ninguém determinou que o dólar é a moeda padrão”, disse o presidente brasileiro.
Um dia após essa manifestação, Trump declarou: “O Brics foi criado para desvalorizar o nosso dólar e tirar o nosso dólar como padrão”.
Quem desconsidera a relação das declarações do presidente Lula com as tarifas impostas pelos Estados Unidos, infelizmente não está em condições de avaliar este grave ato desprovido de paixões políticas.
A economia II
O Brasil exporta 230 bilhões de reais por ano para os EUA. Serão, aproximadamente, 115 bilhões de reais por mês que custará ao país decorrente do tarifaço imposto pelo presidente americano.
O setor agrícola catarinense, a empresa WEG, sediada em Jaraguá do Sul, a Embraer, o Estado de São Paulo e tantos outros atores serão duramente afetados.
Outro ponto interessante que não pode ser desconsiderado e que me dá a deixa para a próxima nota é a de que o comércio bilateral entre Brasil e EUA registra um superávit a favor dos americanos, ou seja, vendem mais os seus produtos do que compram os do Brasil, e, portanto, impor tal tarifa não é economicamente justificável sob qualquer prisma que se analise.
A política
Se não há justificativa econômica plausível para a imposição de tarifas, avaliar o cenário político é necessário para a devida compreensão.
Trump, no primeiro parágrafo do comunicado escrito por ele, citou a família Bolsonaro: “A forma como o Brasil tem tratado o ex-presidente Bolsonaro, um líder altamente respeitado em todo o mundo durante seu mandato, inclusive pelos Estados Unidos, é uma vergonha internacional. Esse julgamento não deveria estar ocorrendo. É uma Caça às Bruxas que deve acabar IMEDIATAMENTE!”
Ao citar diretamente o ex-presidente, Trump coloca um alvo no peito de Bolsonaro, que terá que sustentar uma forte pressão dos governistas e dos setores comerciais mais atingidos.
Mas o fato é que não só foi só o comunicado de Donald Trump que indiciou um desagravo ideológico. Ao afirmar que seu trabalho nos EUA começou a render frutos, Eduardo Bolsonaro referendou o pronunciamento americano e permitiu que houvesse interpretações de que seria ele um dos responsáveis pela sanção imposta ao Brasil.
A política II
O filho do ex-presidente, em solo americano, gravou um vídeo e alertou às lideranças brasileiras em tom ameaçador:
“Cabe ao Congresso liderar esse processo (para reversão das tarifas) começando com uma anistia ampla geral e irrestrita. (...) A situação tende a se agravar, especialmente para certos indivíduos e seus sustentadores. Restam três semanas para evitar um desastre. Que Deus abençoe o Brasil e que Deus abençoe os Estados Unidos da América”.
Eduardo Bolsonaro, que mirava em Alexandre de Moraes, acabou acertando no país inteiro, e não há nada que una mais um povo de determinada nação do que um inimigo estrangeiro.
A Política III
Já escrevi em outras oportunidades neste espaço: o cenário desenhado para 2026 tende a ser uma disputa entre Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, e Fernando Haddad, Ministro da Economia de Lula.
Aliás, nos últimos dias, os discursos de ambos referendam essa hipótese.
Mas, também já disse por aqui, que Haddad iria para o sacrifício, já que Lula caminhava de forma moribunda para os seus últimos dias de mandato e, apenas se uma hecatombe acontecesse, a vitória da direita estaria ameaçada.
Pois bem, ela aconteceu. A investida de Trump deu ao PT o discurso de sobrevivência que tanto procuravam.
Mesmo sem um plano para o país, Lula sabe como ninguém aproveitar as oportunidades para ganhar uma eleição. Se antes o cenário se encaminhava para uma mudança de rumo, hoje, pode-se dizer que Donald Trump, em parceria com a direita brasileira, ofereceu ao governo o presente que tanto desejavam.
A política IV
As análises de alguns players do mercado já precificam os prejuízos da direita com o ato de Donald Trump. O banco BTG em seu relatório, por exemplo, sentenciou: “a disputa tarifária pode fortalecer Lula na eleição em 2026”.
No curto prazo, Jair Bolsonaro deverá arcar com a responsabilidade pela bagunça no país. Já com o decorrer do tempo e com uma possível crise batendo às portas dos brasileiros, quem deverá rebolar para não ser responsabilizado será o presidente Lula.
A política V
O país está cansado de tanta vicissitude. O sistema já percebeu isso e deve excluir Lula e Jair Bolsonaro do jogo no ano que vem.
Tarcísio é o nome preferido da mídia, do mercado e do judiciário, e se acertar no tom em meio a essa crise, deverá ascender como a figura pragmática que o Brasil precisa.
Já se errar, poderemos testemunhar um avanço da terceira via e, aí, Ratinho Junior e Eduardo Leite surgem como as figuras mais interessantes ao eleitor de centro.
Cansou
João Goulart foi um político fervoroso e, após uma intensa polarização política, foi defenestrado pelos militares sob o discurso de que o país precisava de ordem.
Assim foi, também, com Fernando Collor. O Brasil apostou no novo, no então caçador de marajás e em pouco tempo se arrependeu. A discrição de Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, tidos por muitos como o melhor de todos os presidentes da Nova República, foi o tom escolhido pela população à época.
Também passamos por esta mesma turbulência no segundo mandato de Dilma Roussef e, naquele momento, Michel Temer colocou em ordem - na medida do possível - um país em absoluto colapso institucional.
Agora, são oito anos de motins. Jair Bolsonaro e Lula da Silva fizeram o país fervilhar. O cidadão brasileiro está cansado de tanta instabilidade e uma figura preparada, pragmática, avessa à devaneios ideológicos deverá ser quem o eleitor apostará as suas fichas em 2026.
O Brasil, definitivamente, cansou.
Canto da beleza
Deus é generoso de todas as formas, mas a beleza sempre surpreende. As irmãs Natália e Sofia Botero representam exatamente o que é ser presenteada com essa dádiva divina.
Erros
A construção da ponte Paulo Osny May naquele local da cidade não foi uma falha de projeto, foi um erro de escolha.
Qualquer avaliação técnica descartaria construir uma ponte com quatro pistas que desembocasse em uma via menor onde o fluxo de veículos já era intenso.
Mas o que era ruim, piorou.
Para corrigir um problema – condutores desrespeitavam a sinalização do local –, a prefeitura entendeu, por bem, estreitar ainda mais uma das principais vias de entrada do município.
Essa imagem parece representar um triste fim da nossa já combalida mobilidade urbana. Uma pena.