Persona Filmes/DS Há 47 anos, Tubarão vivia uma das maiores catástrofes naturais de toda a sua história. Hoje, data em que é lembrada a “Enchente de 74”, sobreviventes trazem à memória as vivências daquele dia. João Antônio da Silva, de 91 anos, é um deles.
Do grupo de risco devido à covid-19, ele confessa que enfrentar a fúria das águas foi menos desafiador do que a pandemia que se vive hoje. “Mesmo vacinado, não poder ficar perto das pessoas que gostamos é muito difícil. Na enchente, coloquei toda a minha família na canoa que tínhamos e fomos buscar abrigo. Todos ficamos juntos. Hoje, infelizmente, diante dessa doença que ninguém pode ver, não temos como fazer a mesma coisa”, desabafa emocionado o morador da Madre.
João conta que, no dia da enchente, sua casa foi devastada pela água. “Tínhamos gado também. Até tentei salvar alguns a nado, mas não consegui. Quando voltei para casa e vi que não dava mais para ficar lá, peguei meus oito filhos que já eram nascidos, a esposa e seguimos pelas águas por dez quilômetros até a comunidade de Santa Rita. Ao chegar lá, fiquei sabendo que tinha mais pessoas precisando de ajuda. Peguei a canoa de novo e voltei para buscá-los. Naquela época, todo mundo se ajudava”, conta.
Após as águas baixarem, João e a família já não tinham mais uma casa para morar. “Fomos todos para a casa de meu pai. Tempos depois fui para São Paulo, juntei dinheiro e, com muito esforço, conseguimos construir uma casa nova no Madre”, destaca João. Após a enchente, o tubaronense teve mais dois filhos.
Para ele, vivenciar a enchente foi menos desafiador do que ele vê hoje diante da pandemia de coronavírus. “Naquela época, a gente tinha saúde e força. Hoje, a gente vê pessoa nova morrendo com essa doença que está longe de ter um fim. O que podemos fazer é colocar na mão de Deus e se cuidar”, diz João.
Daiane Fernandes