Sem abraços, sem toques e sem sorrisos. Tão perto e tão distantes ao mesmo tempo. Essa é a realidade que professores e alunos estão vivendo neste ano com o retorno às aulas presenciais em meio à pandemia de coronavírus. Desde o dia 18 de março do ano passado, as aulas foram realizadas remotamente.
Uso de máscaras, álcool em gel para higienizar as mãos, distanciamento de 1,5 metro entre as pessoas são novos hábitos indispensáveis nas escolas para a proteção de docentes e discentes. Na EEB Doutor Renato Ramos da Silva, em Laguna, a direção instalou na mesa dos professores, nas salas de aula, um acrílico como forma de proteger todos.
Segundo a professora Dilsimar da Silva Tereza, que leciona para o segundo ano das séries iniciais, esses novos hábitos têm sido difíceis em sala de aula. “Acredito na educação afetiva, em que o aluno precisa conhecer o professor, gostar dele para confiar e aprender melhor. Com o distanciamento e o uso da máscara, isso está impedido. Tirei a máscara rapidamente para tomar água e uma aluna ficou me olhando surpresa, porque até então ela não tinha visto meu rosto”, conta a docente.
A professora conta que os alunos foram bem avisados em casa sobre o vírus e os cuidados, mas não estão gostando das mudanças. “A escola não é a mesma que deixaram no dia 18 de março de 2020. O recreio foi reduzido, o lanche é separado, o banheiro é limitado, a água vem de casa, fora o calor da máscara”, ressalta Dilsimar.
Além disso, conta ela, nas séries iniciais há outros obstáculos. “Na alfabetização, existe o método da boquinha, em que o professor pronuncia a letra e o aluno repete. Mas com a máscara, não consigo. E ainda não tem o abraço famoso nos anos iniciais, nem podem dar mão para a professora. O distanciamento das mesas é feito por fitas zebradas. E quando tenho que segurar a mão do aluno, para que ele acerte o traçado correto das letras, logo lembro que posso estar passando o vírus para ele. Isso me frustra, e tudo isso torna a escola meio entristecida, pois não vemos mais o sorriso dos alunos no recreio e aquela brincadeira sadia de sempre”, conta.
“Só queria poder abraçar meus alunos. Queria poder tirar a máscara para eles verem como eu falo, e não consigo. Queria poder tocar nos alunos e não posso. Estou na espera que esse vírus vá embora de uma vez e que venha a vacina”, acrescenta a professora.
Dificuldades das escolas
Segundo o diretor da EEB Doutor Renato Ramos da Silva, em Laguna, Jaison John Wernner, a unidade ainda apresenta uma realidade ímpar em relação a outras instituições da rede estadual. “Há escolas em que faltam professores. Na nossa, está tudo fluindo bem, mas o secretariado está defasado, por termos muitos profissionais do grupo de risco que estão trabalhando remotamente”, diz.
Quanto ao acrílico na mesa dos professores, em sala, ele diz que foi pensado para garantir a segurança dos docentes e alunos. “Foi uma atitude da escola, pensada pela equipe diretiva. As crianças entenderam que é para proteção”, ressalta.
Tatiana Dornelles