Caio Tokarski
Vice prefeito de Tubarão
No momento em que o país completa um ano de vivência com a dura realidade da pandemia da covid 19, com a perda da vida de quase 270 mil brasileiros, chegamos, com certeza, ao pior momento desta catastrófica doença. Por uma série de motivos, as pessoas se acostumaram a assistir à busca de assistência médica, sem sucesso, pelos outros. E, consequentemente, à perda de milhares de pessoas. Estas só parecem ser atingidas quando alguém próximo é vitimado. Quando os interesses econômicos estão acima das vidas, argumentos se transformam em ataques ao outro. Aqui, parece que nada funciona.
O isolamento social fracassou, a busca por um plano nacional de enfrentamento não existe. E, como se isso não bastasse, temos a divisão. A busca pela paternidade da solução, a imbecil discussão sobre o país do qual seria feita a compra da vacina. Tudo isso nos fez ser um dos países mais atrasados, desorganizados e rachados quanto à busca de soluções para a aquisição e produção de imunizantes. Até nisso conseguimos errar.
Felizmente, mesmo atrasados e a conta-gotas, estamos vacinando os segmentos prioritários. Mas estamos nos esquecendo de uma importante coisa: não existe vacina para a indiferença. Não sei por quanto tempo vamos assistir, impávidos, às milhares de vidas brasileiras serem ceifadas como números sem nome, sem rosto e sem família.
Claro, desde que não seja perto dos meus. E quando isso acontece, de forma dura e amarga, a indiferença acaba. Será essa a vacina para a indiferença? Espero que não. Espero que haja tempo de reflexão imediata do que somos, para onde vamos e o que queremos.
E antes que alguém leia este desabafo e, por algum motivo, pergunte: de quem é a culpa? Vou responder com um dos sermões do papa Francisco, que diz: “Quando não existe um culpado, todos somos culpados”.
O que estamos vivendo é o resultado do que somos. Mas ainda podemos mudar o curso desse caminho.