Artigo
Ele sabota a missão diplomática brasileira e navega contra os ventos da República.
Enquanto senadores tentam abrir canais de diálogo com o governo americano, uma voz nacional trabalha ativamente contra a missão. O deputado declarou publicamente estar atuando para impedir que os parlamentares encontrem qualquer interlocução relevante em solo estrangeiro. Mais do que uma divergência de estratégias, o que se observa é uma clara sabotagem de uma ação institucional, em nome de interesses pessoais e faccionais.
Num passado não muito distante, as “autoridades” morriam negando suas interferências; hoje, sem a mínima cerimônia, assumem ou entregam a verdadeira razão dos fatos. No caso dele, assume em vários vídeos sua interlocução perversa, e a outra autoridade colocou por escrito a justificativa para o tarifão.
Diante da gravidade, esperava-se que os representantes brasileiros fossem respaldados por todas as forças políticas, inclusive aquelas que se dizem patriotas e defensoras da soberania nacional. Mas ele pensa diferente. Em suas palavras, a missão é “fadada ao fracasso”, “vazia de legitimidade” e “desrespeitosa”. Por isso, trabalha ativamente para que os senadores “não consigam falar com ninguém”.
Ora, que tipo de representante nacional deseja, publicamente, o fracasso de seus colegas em missão oficial? Que tipo de projeto político considera a obstrução da diplomacia nacional como um ato de lealdade? Esse episódio revela um ponto nevrálgico da crise democrática brasileira: a substituição do interesse público por fidelidades privadas. O “Brasil acima de tudo”, tão repetido em campanhas de outrora, se desfaz diante da primazia dos pactos de lealdade a um projeto familiar e pessoal, e olha que não somos um regime monárquico há 135 anos. A comparação não pretende ofender as monarquias.
Quando um deputado federal atua para sabotar senadores brasileiros, reverenciando um estrangeiro, rompe-se não apenas a unidade institucional, mas a própria noção de soberania. A política externa de um país precisa de coesão, institucionalidade e legitimidade. Missões parlamentares fazem parte do jogo democrático, e seus membros não representam apenas seus partidos, mas o Brasil diante do mundo. Tentar bloquear essa atuação é, no mínimo, uma afronta à República.
Como em toda boa narrativa de pirataria, há sempre um navio atacado por alguém que deveria estar na mesma frota. Este pirata de carnaval não mira tesouros, mas o enfraquecimento das instituições democráticas. Ele navega por mares ideológicos próprios, disparando contra os que tentam construir pontes, e não barricadas. Ele não navega com a bandeira do Brasil. Sua bússola aponta apenas para a ilha de Mar-a-Lago, onde deposita sua lealdade. Um verdadeiro pirata institucional, que saqueia os canais da diplomacia e lança os senadores ao mar. A caixa-preta revelará algo.