Fabíola Claudino Sampaio denuncia omissão por parte da equipe de resgate
Um ano após a morte do sargento do Corpo de Bombeiros Anderson Martins Cardoso, durante uma tentativa de resgate em Tubarão, sua viúva, Fabíola Claudino Sampaio, busca justiça e denuncia omissão por parte da equipe que chegou ao local. Anderson morreu afogado no dia 1º de junho de 2024, ao tentar salvar um homem que havia pulado da ponte do Morrotes.
“Perdi uma parte de mim. Um pedaço do meu mundo, agora, caminha em silêncio”. É assim que Fabíola, de 34 anos, resume como é a vida desde a morte do marido. Naquele dia, Anderson estava de folga e seguia em um carro de aplicativo. Ao ver um homem pular da ponte, desceu do veículo para tentar resgatá-lo. Nenhum dos dois conseguiu retornar à superfície.
“Cada riso dele, cada plano que fizemos. Ele partiu sendo herói. É um orgulho saber que ele se foi tentando salvar uma vida, mas é uma dor intensa. Parece que dói todos os músculos, o corpo todo. Ele era um homem grande, de coração enorme. Fazia de tudo para ajudar os outros. Só quem vive o luto sabe como é”, conta.
Anderson tinha 52 anos, era coordenador regional da Defesa Civil e atuava como um dos principais líderes nos grupos mobilizados no enfrentamento de eventos climáticos em Tubarão nos últimos anos.
Ainda vivo
A advogada criminalista Aline Marques, que representa Fabíola, afirma que, no dia do afogamento, o Corpo de Bombeiros Militar foi acionado para atender a ocorrência. Antes da chegada da guarnição, dois policiais militares que patrulhavam a região entraram no rio para tentar salvar o sargento. No entanto, enfrentaram as mesmas dificuldades e, em visível exaustão, não conseguiram retirá-lo da água.
“Enquanto isso, os bombeiros militares chegaram ao local e, conforme registrado em vídeo, caminharam até a margem, sem equipamentos apropriados, vestimentas adequadas ou postura condizente com a gravidade da situação. Anderson ainda estava vivo no momento da chegada da equipe especializada, mas nenhum dos bombeiros ingressou de imediato no rio”, relata a advogada.
Ações cível e criminal após “omissão e falhas”, diz advogada
Segundo Aline, uma filmagem feita no local comprova que, desde a chegada da guarnição até a entrada de um dos agentes na água, transcorreram mais de 1 minuto e 40 segundos. “Nesse intervalo, Anderson submergiu. O tempo perdido - somado à ausência de ação - foi determinante para o desfecho fatal. A gravação ainda registra conversas entre os militares indicando que sequer sabiam da localização de equipamentos básicos, como nadadeiras, revelando desorganização no atendimento”, acrescenta a advogada.
Ela explica que, apesar da gravidade do ocorrido, o inquérito militar instaurado para apurar os fatos foi arquivado sem responsabilização dos envolvidos. Já a investigação criminal da Polícia Civil, que trata o caso sob a perspectiva de homicídio doloso por omissão, segue sem conclusão.
Por esse motivo, a viúva entrou com uma ação indenizatória contra o Estado de Santa Catarina. “O Estado responde pelos atos dos seus agentes. Mas compreendemos pela necessidade de responsabilizar individualmente cada bombeiro que foi negligente, portanto, seguiremos atuando na via criminal. Então serão ações cível e criminal”, explica Aline. A ação criminal ainda não foi iniciada, pois depende da conclusão do inquérito policial.
“O caso reúne elementos contundentes: omissão em tempo real registrada por vídeo, falhas de comando e logística e ausência de uso de equipamentos já disponíveis na viatura. Tudo isso num contexto em que a vítima estava viva e acessível no momento em que os agentes especializados chegaram”, reforça a advogada.
“Outros poderão passar pelo mesmo”, diz Fabíola
Aline destaca que a intenção da família não é atacar a instituição, mas promover mudanças.
“É importante enfatizar que o objetivo da viúva é alertar a corporação de que um erro grave ocorreu - e que não pode se repetir. Existe a necessidade de o Estado rever seus procedimentos e garantir excelência como padrão de atendimento. É muito doloroso perceber que o sargento Anderson dedicou sua vida à corporação, mas não foi salvo por ela quando podia e devia ter sido. Não se trata de desmerecer o trabalho dos bombeiros, mas de convidar à reflexão e à correção de falhas”, explica a advogada.
“Essa busca por justiça é, antes de tudo, uma forma de honrar a vida do meu esposo. Ele deu a vida para salvar uma pessoa e eu respeito a decisão dele. Porém, o mínimo que ele precisava era respeito, que os próprios colegas não tiveram com ele. Talvez acharam que o homem era um suicida, mas todos merecem ser tratados iguais. A profissão do bombeiro é salvar, não estamos ali para julgar quem merece ser salvo. Não podemos deixar essa história morrer assim ou o ciclo continuará. Só quero que as ações sejam assumidas, responsabilizas e que erros não sejam encobertos. Eles precisam ser punidos ou outras famílias poderão passar pelo mesmo”, reforça Fabíola.