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Vivemos num tempo em que a política é constantemente desacreditada, e muitos enxergam o Estado apenas como ineficaz ou corrupto. Mas, esta semana, Santa Catarina nos ofereceu um contraponto importante: um exemplo claro de quando a política pública acerta, e é a sociedade que erra. O programa Universidade Gratuita, implementado pelo governo catarinense, é uma política de inclusão, uma tentativa governamental de romper ciclos de exclusão.
O Estado agiu com responsabilidade e sensibilidade social. Pensou com os pés fincados na realidade de quem caminha com dificuldade. Mas o que vimos foi chocante. Indícios de que famílias burlaram o crivo do programa, mentindo sobre sua condição socioeconômica, omitindo bens, ignorando regras. E o mais grave, talvez, o estudante não seja o responsável direto pela fraude, foram os seus “responsáveis legais” que, ao invés de transmitirem valores de honestidade, ensinaram o atalho da vantagem ilícita.
O programa não foi falho, como em qualquer processo requer aprimoramento, sem dúvida. O que falhou foi o senso ético e moral de quem decidiu se apropriar de um direito alheio. É importante dizer: em um país em que se repete tanto que “o problema é o governo”, talvez seja hora de olhar com mais critério. Neste caso, o Estado atuou para corrigir desigualdades. O erro partiu da sociedade, que se recusou a respeitar o espírito da lei, ou seja, eu sou a mudança que eu quero?
A crítica fácil à política desconsidera que existem gestores públicos comprometidos com a justiça social, e que o fracasso não está na proposta, mas na conduta de quem se sente acima da lei. As ações nascem do lugar de onde olhamos o mundo. Se pisamos em solo privilegiado, temos duas escolhas: usar essa posição para promover equidade ou para manter privilégios a qualquer custo. Neste caso, infelizmente, escolheram a segunda opção.
É urgente restaurar os valores éticos e morais na vida pública e privada. O futuro de uma sociedade não se constrói com fraude, mas com justiça. Não se avança mentindo sobre o que se é, mas reconhecendo o lugar de onde se veio, e estendendo pontes para quem não teve as mesmas oportunidades. Pensar com os pés no chão é pensar com responsabilidade. E o que vimos em Santa Catarina foi, acima de tudo, uma demonstração de que, quando os valores falham, nem mesmo as melhores políticas públicas resistem à má-fé. O escândalo não é a fraude ser descoberta, é ela ser ensinada dentro de casa. O problema não é a política, é o caráter do cidadão.