Artigo
Depois de mais de seis anos fora da sala de aula, período em que atuei como gerente de Educação e presidente da Fundação Municipal de Educação de Tubarão, retornei ao lugar onde minha história na educação começou: a sala de aula.
Foram seis anos intensos, desafiadores e transformadores, em que pude conhecer os bastidores da gestão pública, dialogar com políticas educacionais, organizar formações, implantar programas e acompanhar o cumprimento de metas. Vi a educação por outro ângulo, mais estratégico, mais amplo — mas, ainda assim, sempre com o olhar de professora.
Voltar para o chão da escola depois desse tempo foi como reencontrar um velho amigo. Mas, para minha surpresa, esse amigo havia mudado muito. A sala de aula que encontrei hoje é bem diferente daquela que deixei anos atrás. As práticas pedagógicas se transformaram. Confesso que, no início, senti medo: minha prática seria considerada ultrapassada? E se os estudantes não me aceitassem?
Mas apostei no que sempre acreditei: a escuta atenta, a observação sensível à necessidade individual de cada estudante e o conhecimento que construí ao longo de 24 anos como professora e seis como gestora.
Retomar o simples hábito de escrever no quadro, de motivar os estudantes para copiarem, lerem em voz alta, escreverem todos os dias, fazer as tarefas de casa e conversar com os pais — isso não é atraso. É consistência. É rotina pedagógica que estimula o cérebro, desenvolve a alfabetização e fortalece a aprendizagem. Não basta oferecer tecnologias, metodologias sofisticadas ou avaliações externas se o essencial não estiver acontecendo diariamente nas salas de aula: leitura, escrita, escuta e produção de pensamento.
Retomando práticas básicas e eficazes, encerramos o semestre com cerca de 90% da turma alfabetizada. Ainda temos muito pela frente, mas já conseguimos enxergar progresso real — e isso não se mede apenas com números, mas pelo brilho nos olhos, pela autonomia e confiança das crianças em si mesmas.
Como gestora, sempre defendi boas políticas públicas. Sei que há excelentes propostas nos planos federais, estaduais e municipais. Mas também sei que, muitas vezes, elas não chegam ao aluno na sala de aula. Não por falta de intenção, mas porque é na prática pedagógica — no contato diário entre professor e aluno — que a política se transforma em aprendizagem real. E, para isso, é preciso investir na sala de aula, nos professores e nas práticas que funcionam.
Hoje, de volta à sala, com os dois pés firmes no chão da escola e a mente aberta pela experiência na gestão, tenho ainda mais certeza: a educação começa na sala de aula — e é lá que os resultados precisam acontecer.