A seresta é hoje um hábito praticamente extinto em Tubarão. Mas como era gostoso, há anos atrás, sair pela rua afora, munidos de violão, cavaquinho, sanfona, pandeiro, chocalho e flauta, tocando de janela em janela, inspiradas músicas, sempre tendo como tema o amor. Era costume o dono da casa abrir sua porta e brindar os componentes do grupo com alguma bebida e salgadinhos sempre após alguns minutos ouvindo aquelas belas melodias.
Hoje em dia, talvez em função do crescimento da cidade, não temos mais seresteiros. No entanto, cidades como Diamantina e Ouro Preto conservam e cultivam esta manifestação tão bonita do folclore brasileiro. Até festivais promovem, com a afluência de inúmeras pessoas de grande sensibilidade entre os quais saudosistas, folcloristas, gente que nutre alguma paixão em seu coração.
Participei de um grupo assim, em Tubarão. Eu não tocava nenhum instrumento, tendo como única função gravar a seresta em um antigo gravador Aiwa, de rolo.
Faziam parte do grupo o Levi Guimarães, o Doca, o Bráulio do Itapirubá, o Arvino Durante, o Wilson Westphal e o Waldemar Sienbert, todos músicos de grande inspiração e exímios intérpretes de uma vasto repertório de lindas canções.
Certa feita, fomos fazer serenata em Itapirubá e um dos companheiros era o Bráulio, excelente tocador de cavaquinho, residente do local. Uma das casas visitadas foi a do Enzo Athanazio, italiano cantante, dono de uma excelente voz de tenor, que, para nosso deleite, cantou conosco algumas tarantelas. Lá pelas tantas, o Bráulio, sobressaltado, perguntou a hora. Eram três da madrugada.
“Ih,” exclamou o Bráulio. “Vou ter que dormir na rua. Minha esposa não me deixa mais entrar em casa”.
Foi quando alguém do grupo sugeriu que fizéssemos uma serenata em frente à janela do seu quarto. Ela cederia e abriria a porta para o marido boêmio.
Sorrateiramente, instalamo-nos sob a fenestra e deflagramos: “Abre a janela, formosa morena...” Foi quando ouvimos de lá de dentro: “Entra pela porta mesmo, ela está aberta, seu Rueiro”.