Domingo, 22 de junho de 2025
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JOSÉ WARMUTH

06/06/2025 06:00

Mar mensageiro

Mês de janeiro.

Amanhece, na praia de Jaguaruna

Chego à varanda e tenho a minha frente todo o poderoso e rumorejante oceano.

O Sol ainda não disse “bom dia” pois está oculto por densas e baixas nuvens.

Sobre uma duna, uma coruja faz plantão à porta do seu ninho. A casuarina que alguém plantou num comoro de areia continua milagrosamente crescendo, malgrado e aridez do terreno.

O vento é frio e vem “de fora”, como chamam os caiçaras ao vento que vem do Leste, trazendo consigo um forte aroma de maresia.

O mar está arrepiado como se também ele estivesse sentindo frio.

Uma enorme pandorga de cor negra puxa um mortal espinhel de cem anzóis. Ela compõe com a atmosfera cinzenta um quadro tristonho que o pintor de marinas Olegário Mainieri não gostaria de pintar.

Pois é. A natureza também tem suas crises de mal humor, tal qual os animais que abriga e entre eles o homem.

Certamente são poucos os forasteiros que terão por opção vir à praia neste fim de semana.

Vou então até a beira do mar.

Para piorar, a água tem uma temperatura glacial. Daquelas de enregelar todos os artelhos.

Fico então observando cada uma das ondas que vem se desmanchar aos meus pés:

A primeira me parece mensageira dos entes queridos que perdi no ano passado, nos quais penso com saudade e com tristeza.

A segunda parece trazer um alô de algum negro menino africano, que lá nos confins deste mar está bem a minha frente.

A terceira traz de volta uma garrafa que, para minha frustação, não contém nenhuma mensagem do ultramar nem um gênio da terra de Aladim.

No espelho da onda seguinte, vejo passar um pampínho prateado que parece estar fugindo a sanha de um tarrafeado que se aventura no gélido mar, mais ao sul de onde estou.

E assim elas vão se sucedendo cada uma delas trazendo uma preciosa lembrança, algumas alegres, outras melancólicas, até que vem vindo uma bem mais volumosa e escura, que foge ao padrão das demais, É certamente a temível e devastadora tsunami que, fazendo a volta ao globo, aqui chega, perdendo sua força.        

 Ainda bem.

Diário do Sul
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