Qual influenciador foi preso esta semana em um escândalo que parou a internet? Qual político teve o sigilo bancário quebrado pela CPI? Qual famoso se envolveu em uma polêmica que dominou as manchetes? Não. Não. Não.
A pergunta que não quer calar é outra: quem matou Odete Roitman?
Trinta e sete anos depois da primeira versão da novela Vale Tudo, a pergunta que parou o Brasil volta a ecoar nas telas, nas redes, nas mídias e nas conversas. Eu, que assisti às duas versões, tive a felicidade de reviver o prazer quase esquecido de acompanhar uma novela do início ao fim — depois de tantos anos sem me prender a uma história.
Sempre fui fã de novelas, mas confesso que as antigas sempre tiveram um lugar especial no meu coração. E, no último sábado, algo raro aconteceu aqui em casa: toda a família — Márcio, meu marido; os três filhos; minha mãe; meu genro; Pingo, o cachorro, e eu — estava reunida diante da televisão, acompanhando o desfecho da trama. Nem todos, é claro, acompanharam a história desde o começo. Um dos filhos (quem será?), inclusive, soltou uma pergunta inusitada, que me fez gargalhar: — Quem é Odete Roitman?
Brincadeiras à parte, é curioso como amamos odiar os vilões de novela. Odete Roitman reina absoluta nesse panteão, ao lado de Carminha, Nazaré Tedesco, Flora e tantas outras figuras inesquecíveis que nos fizeram vibrar, xingar, torcer — e, no fundo, admirar.
Reviver essa história foi, para mim, reviver também um tempo: aquele em que o Brasil parava para assistir à novela, em que as famílias se reuniam na frente da TV e o país inteiro comentava o mesmo enredo no dia seguinte. Há uma magia nisso, uma força coletiva da ficção que ultrapassa gerações.
A novela sempre foi mais do que entretenimento. É um espelho do país, um palco onde se encenam nossas feridas e esperanças. Foi assim com Vale Tudo — que nos fez discutir ética, corrupção, desigualdade, patriarcado e também o alcoolismo, tudo sob o véu brilhante da teledramaturgia.
E no centro disso tudo, ela — Odete Roitman, a mulher poderosa, a vilã que virou mito, o símbolo de um tempo em que a ficção unia pais e filhos, ricos e pobres, lares e ruas.
Talvez seja essa a verdadeira resposta: a ficção ainda é o nosso elo mais forte. É ela que nos reúne diante de uma tela, que desperta conversas entre gerações, que devolve ao cotidiano um pouco de encantamento.
Porque, no fundo, o que nos move não é apenas descobrir quem matou Odete Roitman, mas reencontrar, em cada história, um pedaço de nós mesmos — o povo que ri, chora e se reconhece nas personagens que habitam o nosso imaginário.